Braga e os seus órgãos de tubos
Órgãos de tubos do concelho de Braga
Braga é um concelho com uma longa e rica História e isso reflete-se na fixação de organeiros e nos numerosos órgãos de tubos, sendo um dos três concelhos com mais extenso portefólio de instrumentos em Portugal.
Sobre O órgão ibérico em Braga – instrumentos e características, José Alberto Rodrigues apresentou em 2017 a sua Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais – para obtenção do grau de mestre em Património Cultural e Religioso. “
“Apesar da individualidade de cada instrumento, o órgão em Portugal, que herda do seu congénere espanhol muitas dos elementos particulares da organaria ibérica, terá também um percurso próprio onde surgirão aspetos distintivos. Também ao nível da composição, os registos de palheta dispostos nas fachadas e o someiro dividido, influenciarão a criação das célebres Batalhas e de várias obras com contraste tímbrico entre a parte esquerda e a direita do teclado. Em Braga, o fervor religioso e a vetusta tradição ligada à Igreja, serão palco para a instalação, em torno da sua catedral, de vários conventos, mosteiros, igrejas e capelas. Nestas, a existência de um órgão que ajudasse a dar maior pompa às cerimónias permitiu que, na atualidade, exista um significativo número de instrumentos históricos que, apesar das vicissitudes a que estiveram sujeitos, sobretudo no século XIX, resistiram e são testemunho único de uma época áurea da arte organística no Norte do país. Hoje assiste-se a um crescente despertar do interesse pelo “rei dos instrumentos”. Realizam-se concertos e festivais, recuperam-se órgãos que agora, além do propósito fundamental da solenização dos ritos litúrgicos, surgem como um bem cultural que desperta o interesse de muitos. O órgão ibérico, simultaneamente património material e, pela sua música, imaterial, é um tesouro que urge preservar e dinamizar, especialmente em Braga, cuja tradição na construção deste instrumento é evidente. A presença, ao longo de séculos, de mestres organeiros vindos de outras paragens, mas também bracarenses, faz indubitavelmente desta cidade pólo de difusão da organaria em Portugal.” (José Alberto Rodrigues)
De Braga é José António de Sousa (século XVIII) o organeiro que, “em 1774, aquando do contrato com a Irmandade da Senhora à Branca se indica “Joze Antonio de Sousa da rua dos Chãos de Baixo desta cidade”. Contudo, em 1782, residia na rua do Alcaide, segundo refere o contrato notarial para a construção do órgão para a Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco (Terceiros). Valença refere que a rua dos Chãos de Baixo era o local da sua oficina e que, mais tarde, se dá uma mudança para a rua do Alcaide. (José Alberto Rodrigues)
De acordo com as informações disponíveis, existem órgãos nos seguintes edifícios do Concelho:
Basílica do Bom Jesus do Monte
O Santuário do Bom Jesus do Monte possui um órgão histórico de tipo ibérico, construído por Manuel de Sá Couto, em 1798; teclado: C – g5 (56 notas); [ II; (20+20) ]. Foi reparado por António Simões em 1993.
Montra do órgão
Basílica dos Congregados
A Basílica dos Congregados, também conhecida por Igreja dos Congregados, possui um órgão histórico de tipo ibérico, de Francisco António Solha, séc. XVIII, órgão, remodelado por Augusto Joaquim Claro, em 1900; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (7+7) ]. Foi reparado em 1995 por António Simões.
Órgão e tribuna
Capela da Casa de Vale de Flores
A Capela da Casa de Vale de Flores, localizada em Infias, possui um órgão falso decorativo, segundo informação de José Alberto Rodrigues.
Capela das Convertidas
A Capela das Convertidas, no Edifício do Recolhimento de Santa Maria Madalena ou das Convertidas, freguesia de São Victor, possui um órgão histórico de tipo ibérico, construído por Luís António de Carvalho, opus 43, 1814; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (4+4) ].
Capela de Santa Teresa
A Capela de Santa Teresa, do Lar de São José, possui um órgão histórico de tipo ibérico, atribuído a Francisco António Solha, séc. XVIII; teclado C – d5 (47 notas, oitava curta); [ I; (6+7) ].
Capela de Santo António
Na Casa das Lages, Pousada, a Capela de Santo António possui um órgão histórico de tipo ibério de autor desconhecido, do séc. XVIII (?), teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), de 10 meios registos [ I; (5+5) ].
Capela de Santo Estêvão
A Capela da Santo Estêvão, Palmeira, possui um órgão moderno Richard Rensch (Alemanha), 1958, teclado: C – f5 (54 notas); pedaleira C – d3 (27 notas), 9 meios registos [I+P; 4+5) ].
Capela de São Miguel-o-Anjo
A Capela de São Miguel-o-Anjo (Maximinos) possui um órgão histórico de autor desconhecido, séc. XVIII (?), teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), 6 meios registos [ I; (3+3) ].
Igreja da Lapa
A Igreja da Lapa possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto (Lagonsinha), construído em inícios do séc. XIX; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (5+5) ].
Montra do órgão
Igreja da Misericórdia
A Igreja da Misericórdia de Braga, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Braga, possui um órgão histórico de tipo ibérico, construído por Luís de Sousa, em 1768; teclado: C – f5 (54 notas); [ I; (9+9) ]. Foi restaurado por António Simões em 2003.
Montra do órgão
Igreja da Penha de França
A Igreja da Penha de França possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, construído em 1774.
Igreja da Senhora-a-Branca
A Igreja da Senhora-a-Branca possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto, construído em 1819; teclado: C – f5 (54 notas); [ I; (6+6) ].
Igreja de Adaúfe
A Igreja Paroquial de Adaúfe (Santa Maria) possui um órgão histórico de tipo ibérico de um teclado e 14 meios registos [ I; (7+7) ] da autoria de José António de Sousa construído por volta de 1795?, restaurado pela Oficina e Escola de Organaria em 2001, opus 37.
Montra do órgão
Igreja de Cividade
A Igreja Paroquial de Cividade (São Tiago) possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de António José dos Santos, construído em 1870, de um teclado: C – f5 (54 notas) e 8 meios registos [ I; (4+4) ].
Igreja de Crespos
A Igreja Paroquial de Crespos (Santa Eulélia) possui um órgão histórico de tipo ibérico de autor desconhecido, construído no séc. XVIII (?), teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), 12 meios registos [ I; (6 + 6) ].
Igreja de Dume
A Igreja Paroquial de São Martinho de Dume possui um órgão histórico da autoria de Augusto Joaquim Claro, construído em 1891, teclado C – f5 (54 notas), com 12 meios registos [ I; (6+6) ].
A Igreja Paroquial de Dume possui um órgão moderno Oberlinger (Alemanha), construído em 1977, teclado C – g5 (56 notas); pedaleira C – f3 (30 notas), com 11 registos (II + P; 11), montado em 2011 por António Simões.
Montra do órgão
Igreja de Lamaçães
A Igreja de Santa Maria de Lamaçães possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria do organeiro vimaranense Luís António de Carvalho, opus 45, construído em 1815, teclado C – f5 (54 notas), com 8 meios registos [ I; (4+4) ].
Igreja de Nogueira
A Igreja Paroquial de Nogueira (São João Batista) possui um órgão histórico de tipo ibérico de autor desconhecido, construído no séc. XVIII (?), teclado C – d5 (51 notas), 16 meios registos [ I; (8+8) ]
Igreja de São Pedro de Maximinos
A Igreja de São Pedro de Maximinos possui um órgão histórico de tipo ibérico, atribuído a Manuel de Sá Couto (Lagonsinha), construído em inícios do séc. XIX, teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), com 10 meios registos [ I; (5+5) ].
Igreja de Nossa Senhora da Torre
Igreja de Padim da Graça
A Igreja Paroquial de Padim da Graça (Nossa Senhora) possui um órgão histórico de tipo ibérico, atribuído a Manuel de Sá Couto (Lagonsinha), construído em inícios do séc. XIX, teclado C – f5 (50 notas, oitava curta), 10 meios registos [ I; 5+5) ]
Igreja de Palmeira
A Igreja Paroquial de Palmeira (Santa Maria) possui um órgão histórico de tipo ibérico de autor desconhecido, do séc. XVIII (?), teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), 14 meios registos [ I; (7+7) ].
positivo de armário
Igreja de Real
A Igreja Paroquial de São Jerónimo de Real possui um órgão histórico de tipo ibérico de 1 teclado e 22 meios registos [ I; (11+11) ] da autoria de José António de Sousa, construído em 1783. Foi restaurado em 1997 por António Simões e recebeu manutenção pela Oficina e Escola de Organaria em 2004, opus 45.
Montra do órgão
No salão paroquial, a paróquia possui um órgão moderno Richard Rensch (Alemanha), 1960, teclado: C – f5 (54 notas); pedaleira C – d3 (27 notas), com 5 registos [ II+P; 5 ].
Órgão positivo moderno Claus Sebastian, 2001, teclado C – c6 (63 notas), [ I; (3+6) ]
Igreja de Santa Cruz
A Igreja de Santa Cruz possui um órgão histórico de tipo ibérico, de Miguel de Mosquera, 1742, teclado: C – f5 (54 notas); [ I; (11+11) ]. Foi restaurado por António Simões em 2001.
Igreja de São João da Ponte
A Igreja de São João da Ponte (Santo Adrião) possui um órgão histórico de tipo ibérico, atribuído a Manuel de Sá Couto, construído em inícios do séc. XIX; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (5+5 ) ].
Igreja de São João de Souto
A Igreja Paroquial de São João de Souto possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de José Joaquim da Fonseca, construído em 1863; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (4 + 4) (+ Subbasso) ].
Montra do órgão
Igreja de São José de São Lázaro
A Igreja Paroquial de São José de São Lázaro possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de Manuel de Sá Couto, construído em 1817; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (5+5) ]. Terá sido restaurado em 2009 por António Simões.
Montra do órgão
Igreja de São Marcos
A Igreja do Hospital de São Marcos possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de Manuel de Sá Couto, construído em inícios do séc. XIX; teclado C – f5 (54 notas); [ I; (8+8) ]. Foi restaurado por António Simões em 2013.
Órgão e coro alto
Igreja de São Sebastião das Carvalheiras
A Igreja Paroquial de São Sebastião das Carvalheiras possui um órgão histórico de tipo ibérico, de autor desconhecido, do séc. XVIII (?), um teclado [C – d5 (47 notas, oitava curta)], três registos inteiros. [ I; 3 ].
Igreja de São Vicente
A Igreja Paroquial de São Vicente possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de de Francisco António Solha, construído em 1769; teclado: C – d5 (47 notas, oitava curta); [ I; (11+12), atualmente (9+10), segundo José Alberto Rodrigues ].
Igreja de São Vítor
A Igreja Paroquial de São Vítor possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de Manuel de Sá Couto, construído em 1815; teclado: C – f5 (54 notas); [ I; (8+8) ]. Foi restaurado em 2016 por António Simões.
Montra
Igreja de Tibães
A Igreja do Mosteiro de São Martinho de Tibães possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, construído em 1785, teclado C – f5 (54 notas), 49 meios registos [ II; (24+25) ].
Órgãos históricos
Órgão e tribuna
Igreja do Carmo
A Igreja de Nossa Senhora do Carmo possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de Joaquim Lourenço Ciais Ferraz da Cunha, construído em 1790; teclado: C – d5 (51 notas); [ II; (15+15) ]
Igreja de Montariol
A Igreja do Convento de Montariol, ou do Colégio de São Boaventura de Montarial, possui no coro alto um órgão histórico de tipo inglês [ I + P; 7 ] da autoria de Joseph Walker – London, construído em 1868, restaurado em 2003 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 43.
Montra do órgão
A Igreja do Convento de Montariol possui no altar um órgão moderno Th. Forbenius & Co., 1954; Teclado: C – g5 (56 notas); [ I; 6 ]
Órgão moderno
Igreja de Santa Maria do Pópulo
A Igreja do Convento de Santa Maria do Pópulo possui um órgão histórico de tipo ibérico, de autor desconhecido, construído no séc. XVIII; teclado: C – d5 (47 notas); [ I; (13+13) ].
Montra do órgão
Igreja de São Salvador
Localizada no Lar Conde de Agrilongo, a Igreja do Convento de São Salvador possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria do Padre Lourenço da Conceição, construído em 1736, teclado: C – g5 (56 notas); 9 registos [ I; 9 ]. Foi restaurado em 2018 por António Simões.
Igreja dos Terceiros de São Francisco
A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco possui um órgão histórico de tipo ibérico, da autoria de José António de Sousa, construído em 1782; teclado C – d5 (47 notas, oitava curta); [ I; (11+11) ].
Sé de Braga
A Sé Primaz de Braga (Santa Maria Maior), do lado do Evangelho, a Sé Primaz de Braga apresenta um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Frei Simón Fontanes (Galiza, Espanha), construído em 1737; teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), dois manuais, [ II; (24 + 24) ]. Restaurado por António Simões em 1992 a expensas do IPPC.
Do lado da Epístola, a Sé de Braga apresenta um órgão histórico Barroco de tipo ibérico, da autoria de Frei Simón Fontanes (Galiza, Espanha), construído em 1739; teclado: C – d5 (47 notas, oitava curta), registos 14 + 14. Restaurado por António Simões em 1989 a expensas do Cabido.
Conjunto dos órgãos
No transepto, a Sé de Braga possui um órgão positivo de coro de tipo ibérico, órgão de armário, da autoria de José Carlos de Sousa, construído em 1799; teclado: C – d5 (47 notas, oitava curta); [ I; (5+5) ]. Restaurado por António Simões em 1992 a expensas do Cabido.
positivo de armário
No Museu, a Sé de Braga possui um órgão histórico de tipo ibérico, atribuído a João Antunes, construído em 1685; teclado: C – a4 (42 notas, oitava curta), quatro registos [ I; 4 ]. Foi restaurado em 2007 por António Simões.
Seminário de São Pedro e São Paulo
No Seminário Conciliar de Braga leciona o organista e professor André Bandeira, licenciado pela Universidade de Aveiro, onde estudou Órgão sob orientação de Domingos Peixoto e Edite Rocha,, mestrado em Performance em 2013.
Na Igreja de São Paulo, coro alto, existe um órgão histórico da autoria de Augusto Joaquim Claro, construído em 1899, de teclado [C – g5 (56 notas)] e pedaleira [C – d3 (27 notas)], com 29 registos (II+P; 29).
Montra do órgão
> > Altar: órgão Manuel de Sá Couto, 1832, um teclado [C – d5 (47 notas, oitava curta)], [ I; 5+5 ], 10 meios registos.
Na Capela da Árvore da Vida existe um órgão construído em 2011 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, com sede em Esmoriz, teclado [ C – d5 (54 notas) ], registos: 1 + 1/2.
Órgão moderno
A Capela da Imaculada dispõe de um órgão positivo moderno construído em 2016 pela firma holandesa Henk Klop; teclado: C – g5 (56 notas), dividido entre Si e Dó3; [ I; (3+3) ].
A Capela de São Pedro e São Paulo dispõe de um órgão positivo moderno construído em 2016 pela firma Giovanni Pradella (Itália), de teclado [C – g5 (56 notas)] e pedaleira [C – f3 (30 notas)], com 5 registos [ II+P; 5 ].
positivo de armário moderno
positivo de portadas fechadas
A Capela do Ano Propedêutico do Seminário Conciliar de Braga dispõe de um órgão positivo moderno construído em 2016 pela firma alemã Johannes Rohlf, opus 180, teclado: C – f5 (54 notas); 1 registo [ I; 1 ]
Pequeno positivo Orgelbau Rohlf
positivo de armário
Universidade Católica Portuguesa
Na Capela da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – Braga, dispõe de um órgão positivo de armário moderno da firma Troels Krhon (Dinamarca); 1979; teclado: C – g5 (56 notas); pedaleira C – d3 (27 notas); [ I+P; 5+5 (+16’) ].
positivo de armário
Universidade do Minho
No Salão Nobre do Departamento de Música da Universidade do Minho existe um órgão histórico de tipo ibérico, de autor desconhecido, construído no séc. XVIII (?); teclado C – f5 (54 notas); [ I; (5+7) ]. Terá sido restaurado por António Simões em 1999.
Instituto de Estudos da Criança
Na Capela do Instituto Monsenhor Airosa existe um órgão histórico de tipo ibérico, de autoria atribuída a Filipe da Cunha, construído em 1737, teclado C – d5 (47 notas, oitava curta), 18 meios registos [ I; (9+9) ]. Foi restaurado por António Simões em 1998.
Órgão em dia de concerto
Novos órgãos no Seminário Conciliar de Braga
Há novos órgãos de tubos em Braga, que vêm enriquecer o património existente, na qualidade do que de melhor se construiu e usufruiu ao longo de séculos. De facto, os órgãos de tubos voltam a encher de música a Pólis, não apenas igrejas e capelas. A promoção da cultura, também a este nível, abre janelas de esperança e de superação nos dramas da existência, na redescoberta duma sensibilidade plural e orgânica, sobretudo no combate à cegueira dos ouvidos.
O Seminário Conciliar de Braga move-se no contexto deste esfoço partilhado, tendo em atenção a formação musical (da cultura da música em geral, mas também da música sacra e da litúrgica em particular) dos candidatos ao ministério ordenado das dioceses de Braga e Viana do Castelo.
Não só por esta missão específica, investiu na aquisição de novos órgãos: um órgão de 5 registos com 2 teclados e pedaleira, na Capela dos Padroeiros, S. Pedro e S. Paulo, e um órgão de arca de 1 registo (bordão 8’), na Capela do Tempo Propedêutico. Foram ambos contruídos segundo os princípios tradicionais e artesanais da organaria, o primeiro por Giovanni Pradella, o segundo por Johannes Rohlf, organeiros da Itália e da Alemanha, respetivamente.
A qualidade de um trabalho ancestral, construído com competência, como é desenvolvido na Organaria Giovanni Pradella; o concurso internacional e a Comissão Técnica; os detalhes da madeira e dos tubos (com chapas feitas sobre areia); a colaboração do Arq. António Jorge e seu atelier Cerejeira Fontes Arquitetos; e sempre, em todo o processo, a alegria dos trabalhadores: Giovanni Pradella, Roberto Tognolatti, Matteo Pradella, etc.; um concerto excepcional por Sietze de Vries… Este é um elenco que poderia continuar, mas ficaria sempre inacabado.
Joaquim Félix, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, publicação e consulta em 22 de março de 2017
Órgão da Igreja de Santa Cruz
A 15 de setembro de 2001, o JN noticiava:
O velho órgão de tubos da Igreja de Santa Cruz, em Braga, voltou, ontem, a ouvir-se, após 100 anos de silêncio. Foi durante a missa solene que assinalou a inauguração do seu restauro. O organista Isolino Dias até improvisou, depois de ter presenteado os irmãos de Santa Cruz com peças de Bach.
«Continuemos a restaurar estes órgãos», desejou o arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, ao mostrar-se surpreendido com a pujança melodiosa do «novo» órgão, que, ontem, acompanhou o Grupo Coral de Santa Cruz.
Na homilia, D. Jorge considerou o restauro uma interpelação do mundo à «construção de uma vida diferente. Assim como a música, com os seus sons diferentes, nos conduz à harmonia, também a humanidade deve seguir os caminhos da paz», disse, aludindo ao atentado terrorista ocorrido em Nova Iorque.
Concertos agendados
Um ano foi o tempo que demorou a trazer à vida o órgão setecentista de Santa Cruz. Os trabalhos custaram cerca de 12 mil contos, pagos pela Irmandade. A responsabilidade do restauro coube ao organeiro António Simões.
O provedor da Irmandade de Santa Cruz, Alberto Quintas, promete, agora, proporcionar «grandes concertos» à cidade. O próximo está já marcado para 27 de Outubro, às 21.15 horas, com o organista Rui Paiva. Segue-se outro, agendado para 22 de novembro.
Com o instrumento recuperado, as missas dominicais em Santa Cruz passam a contar com os sons do velho órgão de tubos para acompanhar o seu Grupo Coral, dirigido por Maria Teresa Couto.
Alberto Martins confessa não saber a razão pela qual o órgão esteve parado tanto tempo. «Foi coisa que a Irmandade deixou escapar», disse.
Fala-se em 100 anos de silêncio, mas o provedor de Santa Cruz admite que tenha sido mais de um século, já que o órgão terá deixado de tocar já em finais do século XIX: «Em todo o caso, posso garantir que nunca funcionou durante o século XX, nem podia funcionar, porque tinha já os seus tubos em completa ruína», acrescentou.
O restauro permitiu colocá-lo, pela primeira vez, na parte central do coro alto da igreja, em vez de encostado à parede lateral daquele espaço do templo, posição que lhe foi atribuída aquando da sua construção, no idos do século XVIII.
Tal facto obrigou a trabalhos de talha suplementares para tapar a parte do móvel que esteve até agora descoberta, o que fez onerar o orçamento da obra, inicialmente prevista para custar dez mil contos.
Considerado um dos mais importantes de Braga, o certo é que a sua história ainda não está, de todo, esclarecida. Não há, por exemplo, certezas sobre o seu construtor.
O investigador australiano W. Jordan atribui a autoria da sua construção a D. Francisco António Solha, um galego que veio para Braga na década de 30 do século XVIII, a convite de Frei Simão Fontanes, organeiro famoso na época, e autor do Órgão da Sé de Ourense.
Autorias incógnitas
Outros investigadores atribuem a construção do órgão de Santa Cruz a Miguel Mosquera, com base num contrato que este organeiro, também galego, terá feito com a Irmandade. Indicam, ainda, o instrumento de tubos foi alterado, em 1760, por Simão Fernandes Coutinho.
Sabe-se que D. Francisco António Solha acabou por se radicar em Braga, onde ter-se-á dedicado a outros trabalhos em igrejas da região. De Miguel Mosquera pode dizer-se que também foi construtor de outros órgãos na diocese de Braga. É-lhe atribuída a autoria do do Santuário de Nossa Senhora de Porto de Ave, Póvoa de Lanhoso.