Guimarães e os seus órgãos de tubos
Órgãos de tubos do concelho de Guimarães [12]
O concelho de Guimarães possui 12 órgãos históricos; destes apenas 2 estão restaurados. Entre eles figura como mais relevante o órgão da Colegiada, 2º maior órgão histórico do Norte de Portugal a seguir ao conjunto monumental dos órgãos da Sé Primacial de Braga. O órgão foi restaurado em 2011-2013 pela Oficina e Escola de Organaria (Esmoriz) dos organeiros Pedro Guimarães e sua esposa Beate von Rohden. (Nuno Mimoso)
De Guimarães é o organeiro Luís António de Carvalho (século XIX), que “trabalhou com Francisco António Solha, com quem terá aprendido a arte. Fixou a sua oficina também em Guimarães, na rua de Mata Diabos. É nesta cidade que terá a sua obra mais significativa, o órgão da colegiada da Senhora da Oliveira, executado em 1838, segundo a inscrição no interior do secreto. Realizará trabalhos de reparação dos órgãos da catedral de Lamego, em 1830, e constrói novos os órgãos da Capela da Ordem Terceira de S. Francisco (Guimarães) e da igreja de São Pedro de Rates (Póvoa de Varzim). Na cidade de Braga, tem-se a confirmação apenas de dois órgãos, na Igreja Paroquial de Lamaçães, construído em 1815, como consta numa inscrição no interior do secreto: “Professor Luís António de Carvalho / Guimarães / 1815 / N.º 45” e na Capela de Santa Maria Madalena (Convertidas), de 1814 (opus 43).” (José Alberto Rodrigues)
Basílica de São Pedro
Órgão positivo de armário
Capela da Ordem Terceira de São Francisco
A Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco possui um órgão da autoria do organeiro vimaranense Luís António de Carvalho (século XIX).
Montra do órgão
Capela de Nossa Senhora da Conceição
A Capela de Nossa Senhora da Conceição possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, construído em 1774.
Igreja da Misericórdia de Guimarães
A Igreja da Misericórdia de Guimarães possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, executado em 1780.
Montra do órgão
Igreja de São Domingos
A Igreja de São Domingos alberga um órgão histórico da autoria de Francisco António Solha, construído em 1758.
Igreja de São Francisco
Igreja de São Sebastião
A Igreja de São Sebastião, do antigo Convento de Santa Rosa de Lima das Freiras Domínicas, possui um órgão histórico no coro alto e outro em tribuna própria.
Montra
consola
tribuna
Montra do órgão
Igreja de Santo António dos Capuchos
A Igreja do Convento de Santo António dos Capuchos, também designada por Igreja do Hospital, possui órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, 1777.
Montra do órgão
Igreja do Carmo
A Igreja do Carmo, do antigo Convento das Carmelitas Calçadas, possui um órgão histórico de tipo ibérico.
Montra do órgão
Igreja dos Santos Passos
A Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos possui um órgão de tubos.
Igreja de Santa Marinha da Costa
A Igreja Paroquial de Santa Marinha, do antigo Mosteiro de Santa Marinha da Costa, possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, construído em 1778-1782.
Montra do órgão
Igreja de São Martinho de Sande
A Igreja Paroquial de São Martinho de Sande (da Confraria do Santíssimo Sacramento) possui órgão de tubos.
Igreja de Oliveira do Castelo
A Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Oliveira, ou Igreja da Real e Insigne Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, classificada Munumento Nacional, possui um órgão histórico de tipo ibérico [ II; (24+27) ] da autoria do organeiro vimaranense Luís António de Carvalho (1766-1839), construído em 1840, restaurado em 2013 pela Oficina e Escola de Organaria, de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 62.
O órgão foi encomendado pela Colegiada em 1831, sendo concluído somente 10 anos depois, em 1841. A extinção das Ordens Religiosas decretada pelo Governo Liberal em 1833-1834 ditou o desaparecimento da arte de construir e tocar órgãos em Portugal. Nos princípios do século XX, os quase 800 órgãos portugueses já não funcionavam. (Nuno Mimoso)
Montra do órgão
FOI NOTÍCIA
“O órgão da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira é um instrumento da primeira metade do século XIX (1831-1841), executado pelo organeiro vimaranense Luís António de Carvalho Guimarães, e concluído pelo seu oficial José António da Cruz. Luís António foi discípulo de D. Francisco António Solha, reputado mestre galego radicado em Guimarães.
O referido órgão tem como base um flautado de 24 palmos na fachada, apresenta 51 meios registos distribuídos por dois teclados e dispõe de 2229 tubos, 270 dos quais de palheta. A caixa é belamente entalhada ao gosto Neoclássico, com elementos dourados sobre um fundo branco pérola. Tanto visualmente como do ponto de vista musical, o conjunto exprime uma certa grandiosidade.
O órgão da Colegiada é, talvez, a derradeira expressão da corrente galaico-portuguesa da organaria ibérica, já adaptada, contudo, às novas tendências musicais da época. Foi encomendado pelos cónegos num momento de renovação arquitectónica e decorativa do interior do templo, integrando um projecto Neoclássico global de grande qualidade, de que subsistem apenas elementos isolados.
Na Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira houve sempre uma cultura musical muito forte, intimamente ligada à liturgia, e em que podemos considerar três vectores: o ensino da música; a prática coral, com a existência de um coro permanente; e a prática instrumental, com organista próprio desde o século XV e com uma Capela de música até finais do século XIX.
A tradição organística local é, assim, muito antiga. O órgão servia inicialmente de apoio ao grupo coral, quer acompanhando-o, quer dialogando com ele, passando mais tarde a executar independentemente repertório próprio. Chegou a haver na Colegiada dois órgãos em simultâneo, um maior no coro de cima, outro menor junto à Capela-mor.
No século XVI o grande organeiro português Heitor Lobo terá feito um órgão para a Colegiada de Guimarães. Em 1786 o também organeiro José António de Sousa realizou uma intervenção muito profunda no instrumento então existente, que já tinha um flautado de 24 na fachada e registos de palheta. Luís António de Carvalho reutilizou certamente algum material anterior.
A acção do tempo e sucessivos consertos no decorrer dos séculos XIX e XX contribuíram para que o órgão chegasse até nós em muito mau estado.
Compreendendo o valor simbólico e patrimonial, histórico e artístico, daquele instrumento, a Colegiada e o seu Prior não se pouparam a esforços para inverter a situação. Em 2010 foi aprovada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte uma candidatura ao programa ON2, o que veio a possibilitar um restauro cuidadoso e profundo, atribuído por concurso público internacional à Oficina e Escola de Organaria Lda., de Esmoriz, dirigida por Beate von Rhoden. O reforço das estruturas do coro alto e o restauro da caixa do órgão foram adjudicados à firma Regra de Ouro, Sociedade de Restauradores, de Tomar, de Luís Ferreira. Os professores Paulo Lourenço e Nuno Mendes, da Universidade do Minho, colaboraram graciosamente com um estudo de avaliação da estabilidade da estrutura do coro. A Direcção Regional da Cultura do Norte acompanhou de forma muito empenhada todo o processo, através da arquitecta Ângela Melo.
Para alegria de todos os amigos dos órgãos e em especial dos vimaranenses, o exemplar oitocentista da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira volta agora a fazer ouvir as suas vozes e a encher de música as naves da igreja.
Manuela de Alcântara Santos, O Conquistador, 19 dezembro 2013, consulta a 18 de março de 2017
O mesmo jornal noticiava, a 20 dezembro 2013:
“Mais de quatrocentas pessoas, que encheram a igreja da Colegiada, assistiram, no passado dia 6, ao concerto de apresentação do órgão de tubos restaurado.
Monika Henking, a organista convidada, encantou com a execução de doze números, em dois dos quais intervieram o Coro Vilancico, e o grupo Coral da Oliveira, sob a direção artística respetivamente de Domingos Salvador e Joaquim Ferreira: o primeiro com a interpretação do Salmo 127(126), uma obra dos arquivos da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira e o segundo com estrofes do hino Ave Maria Stella (II vésperas do ofício comum de Nossa Senhora) acompanhado a órgão intercalado por uma composição de Manuel Rodrigues Coelho (1555-1633).
O dom prior da Colegiada, Monsenhor José Maria Lima de Carvalho, fez o discurso de abertura. Para memória futura aqui ficam as suas palavras Te Deum Laudamus.
Sob a responsabilidade da Direção Geral dos Monumentos Nacionais ocorreu, durante um período de seis anos (1967-1973) o restauro da igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira que, na parte mais relevante, consistiu em apagar o revestimento Neoclássico operado no séc. XlX, à exceção da Capela-mor e ábsides colaterais. Parte do recheio não foi devidamente contemplado, designadamente os túmulos dos Pinheiros, no piso térreo da torre sineira e, quanto ao órgão monumental, indícios apenas de atenção à máquina que reclamava intervenção profunda, até se chegar ao ponto de abandono total da obra no final da década de oitenta.
A partir de novembro de 1992, não conformados com a situação, iniciámos uma nova etapa junto do Instituto Português do Património Arquitetónico e Arqueológico. Conscientes de que não poderíamos ignorar a realidade, cada vez mais premente aliás, apesar da posição reticente, sobretudo no que respeitava a encargos financeiros, chegámos a 2009 em que nos foi dada a possibilidade de candidatura ao Programa Operacional Regional do Norte o NOVO NORTE (O.N. 2) para o restauro do retábulo-mor e máquina do órgão de tubos da igreja de Nossa Senhora da Oliveira.
Em 15 de Julho de 2010, foi assinado, em Serralves, o contrato de Financiamento pela Comissão Diretiva do O. N. 2 e Fábrica da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Oliveira. Em 16 de Julho de 2011, após estudos , consultas e concurso internacional, foi adjudicada a obra ao Mestre organeiro Pedro Daniel Oliveira Guimarães von Rohden (Pedro Guimarães), da Oficina e Escola de Organaria, L.da, Esmoriz. Entretanto, foi necessário abrir concurso internacional para a recuperação/reforço de estruturas e conservação/restauro de elementos artísticos do coro alto, o qual foi ganho pela firma Regra de Ouro-Sociedade de Restauradores, L.da; outorgou o contrato o sócio gerente Luís Rodrigues Ferreira, em 17 de agosto de 2012. Preponderante, neste processo de restauro, foi o contributo gracioso da Universidade do Minho com o trabalho dos seus ilustres docentes Paulo B. Lourenço e Nuno Mendes: avaliação da estabilidade da estrutura do coro alto: aqui deixamos o nosso público agradecimento.
Foi muito interessante, por vezes complicado, o caminho percorrido. É ocasião, agora, de sublinhar e agradecer a solidariedade efetiva de pessoas e instituições, que tornaram possível a concretização desta compensadora realidade. No arranque, a responsável técnica do Programa Operacional Regional do Norte, Nídia Menezes Alves e o empenho da Direção Regional de Cultura do Norte com destaque para o trabalho verdadeiramente notável da arquiteta Ângela Melo. Antes de tudo isto, porém, é de salientar a colaboração determinante do corpo técnico do museu de Alberto Sampaio, especialmente da, então, diretora, Isabel Maria Fernandes e da estagiária Alexandra Pedro na elaboração da candidatura.
Figura incontornável foi a historiadora, Manuela de Alcântara Santos, conhecedora ao pormenor da vida e património da Colegiada, nomeadamente do órgão de tubos e que tem acompanhado todo o processo de restauro com o seu contributo de estudos feitos e com o seu conselho.
Uma menção especial é devida também à nossa contabilista Adelina Alves: soube, em cada passo do processo, desde a candidatura até ao termo da obra, conformar-se com todas as exigências que um contrato de financiamento, como este, implicava.
O encargo financeiro resultante desta operação foi de 406.303.44 euros (IVA incluído): 364.572,00€ da máquina do órgão e 41.731,44€ da recuperação/reforço de estruturas e conservação/restauro de elementos artísticos do coro alto, financiado em 70% pelo FEDER e os restantes (30%) por fontes nacionais, neste caso a Fábrica da Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Oliveira, através da gestão das esmolas e alguns donativos dos fiéis. A todos é devido o nosso muito obrigado e a súplica das bênçãos do Senhor.
No final, num coro de aplausos, foram homenageados os três responsáveis do concerto, atrás referidos, bem como os restauradores do órgão: Pedro Guimarães e Beate Guimarães (máquina do órgão) e Luís Ferreira, da firma Regra de Ouro, (caixa e estruturas do coro) e ainda Isabel Maria Fernandes e Alexandra Pedro pela sua ação preponderante na elaboração da candidatura. Também à arquiteta Ângela Melo, da Direção Regional de Cultura do Norte foi prestado reconhecimento público pelo trabalho incessante e empenhado em todo o processo de restauro.
O senhor arcebispo primaz encerrou o concerto com palavras de reconhecimento e de regozijo pela recuperação do bem patrimonial e cultural em causa. Salientou o papel da música, designadamente a música litúrgica, na criação da harmonia do homem consigo mesmo e com a comunidade. E terminou com a citação da Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia (SC n 120): Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimónias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus.
Lima de Carvalho, O conquistador, 20 dezembro 2013