Idanha-a-Nova e os seus músicos
Músicos naturais de Idanha-a-Nova
Projeto em desenvolvimento, o Musorbis aproxima os munícipes e os cidadãos do património musical e dos músicos do Concelho.
- Alfredo Vasconcelos (produtor, m. 2024)
- Catarina Chitas (adufe, 1891-2004)
- Joel Pina (violista, 1920)
- Manuel Moreira (viola beiroa)
- Vítor Reino (músico, investigador, 1956-2000)
Alfredo Vasconcelos
Idanhense de coração, Alfredo Vasconcelos foi um dos grandes impulsionadores da realização do Boom Festival em Idanha-a-Nova, um concelho do interior de Portugal onde poucos ousariam um evento desta dimensão.
Ligado à organização do festival em Idanha-a-Nova desde 2004, Alfredo Vasconcelos era Produtor Executivo do Boom e um dos principais responsáveis por criar em Idanha o festival mais internacional do Mundo.
Em 2023, decorreu a 14ª edição do Boom Festival, com a participação 40 mil pessoas de 178 países. O tema escolhido foi “Amor Radical”, uma expressão que tão bem representa a visão e os valores do festival e dos seus mentores (recordando aqui Jorge Fialho, que também já partiu): abraçar a diversidade, a arte e a multiculturalidade, em prol de um Mundo melhor e mais sustentável.
Ao longo dos anos, o Boom Festival tem sido galardoado com os mais importantes prémios internacionais na área da sustentabilidade, pelas suas boas práticas ambientais. Além da preocupação ecológica, Alfredo Vasconcelos defendeu, desde sempre, a responsabilidade social do evento para com o território de Idanha-a-Nova e sua envolvente. Foi um interveniente sempre ativo no desenvolvimento sustentável de Idanha e aqui viveu grande parte da sua vida, bem como a sua família. Muito do prestígio e notoriedade internacional que Idanha alcançou nas áreas da cultura e da sustentabilidade, deve-se ao Boom e ao trabalho realizado pela sua organização.
Fonte: Idanha
Catarina Chitas
Vulgarmente apelidada de Ti Chitas (Penha Garcia, 1891 – 2004) Catarina Chitas foi uma pastora de Penha Garcia que também tocava adufe. As primeiras gravações terão sido feitas por Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira em 1963. Em 1964, por ocasião do I Congresso Nacional de Turismo, a Fundação Gulbenkian levou a efeito uma exposição sobre Instrumentos Musicais. A Região da Beira Baixa esteve representada pela tocadora de adufe, Catarina Chitas.
Michel Giacometti gravou em 1970 para a série produzida pela RTP “Povo que canta”, publicado em 1970/1996 – Antologia da Música Regional Portuguesa. Beira Alta. Beira Baixa. Beira Litoral.
Em 1982 por José Alberto Sardinha, em “Recolhas da Tradição Oral Portuguesa – Beira Baixa e Minho”, e em 1997, em “Portugal Raízes Musicais – nº 4 Beira Baixa e Beira Transmontana”. Em 1984 a Banda do Casaco editou o disco “Com Ti Chitas”. A Câmara Municipal de Idanha a Nova editou em 1991 um LP com 17 faixas, inteiramente dedicado a Catarina Chitas. Em 1992, é editado na Collection Dominique Buscall o CD “Music du Monde – Portugal: Chants et tambours de Beira Baixa”, em que Catarina Chitas canta em nove faixas. Em 1994, um CD concebido e realizado por Jacques Erwain, “Voyage Musical Portugal – Le Portugal et les Iles”, inclui duas gravações de Catarina Chitas e um depoimento biográfico feito pela mesma.
Em 1999 a banda Sétima Legião usou uma gravação, parcial, de Catarina Chitas no tema “Girassol” (que integra o álbum “Sexto Sentido”). Um dos destaques da edição de 2002 do Festival Cantigas de Maio foi a exposição “Colectores de Música Popular Portuguesa” com a orientação de Domingos Morais. Daí resultou a edição do primeiro CD da Associação José Afonso com gravações de Catarina Chitas (Ti Chitas). (Fonte: Wikipédia)
Manuel Moreira
Manuel Moreira, tocador de viola beiroa, nasceu em Penha Garcia, concelho de Idanha-a-Nova, de acordo com informação do musicólogo Manuel Morais. Acompanhava a Ti Catarina Chitas com o adufe e a cantar. Catarina Chitas morreu em 2004 com 113 anos.
Manuel Moreira foi considerado o último tocador de viola beiroa, também designada bandurra.
Vítor Reino
Natural da aldeia de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova, onde nasceu, em 1956, Vítor Reino destacou-se na recolha, divulgação e recriação de tradições musicais portuguesas, tendo promovido a criação de grupos como Almanaque, Ronda dos Quatro Caminhos e Maio Moço. Cego desde a infância, era formado em Psicologia, pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa, sendo autor de uma obra de investigação na área das deficiências visuais.
A música surgiu no seu percurso em 1974, primeiro como orientador e intérprete de projetos ocasionais, depois com o propósito de uma abordagem mais sistematiza da música tradicional portuguesa, a que os primeiros grupos, Almanaque e Ronda dos Quatro Caminhos, deram forma.
Com Maio Moço, fundado em 1985, Vítor Reino e os músicos que o acompanhavam construiram uma discografia premiada, que envolve álbuns como “Inda Canto Inda Danço”, com danças de raiz popular, “Amores Perfeitos”, sobre poemas de autores como Camões e Fernando Pessoa, “Estrada de Santiago”, viagem musical pelo país, e “Canto Maior”, reunião de romances, danças, cantigas infantis, de trabalho, de amor e de matriz religiosa, de inspiração tradicional. Com “Cantigas de Marear”, uma abordagem do mar e dos Descobrimentos, no cancioneiro tradicional português, o grupo Maio Moço venceu o Grande Prémio do Disco, da Rádio Renascença, em 1989.
Vitor Reino trabalhou na recolha etnomusical com o investigador José Alberto Sardinha, promoveu registos de campo, em diferentes regiões do país, publicou ensaios sobre o património musical português, e promoveu a notação musicográfica em partitura, de canções e melodias recolhidas.
Resgatou também o uso de instrumentos tradicionais, muitos deles quase desconhecidos e em extinção, como o rajão, a viola de arame e a viola toeira, que combinou com instrumentos e formações clássicas, como o oboé e o quarteto de cordas, no contexto de recriação da música tradicional portuguesa.
Como psicólogo e funcionário do Ministério da Educação, desde 1983, trabalhou no Centro de Recursos para a Deficiência Visual e interveio na formação de professores do Ensino Especial. Fez ainda parte da Comissão de Leitura para Deficientes Visuais, que o elegeu em 1998 representante na Comissão de Braille.
O seu trabalho de investigação, nesta área, foi por diversas vezes distinguido com o Prémio Branco Rodrigues, administrado pela Biblioteca Nacional de Portugal, nomeadamente os ensaios “A Palavra Cegueira: Um Estudo sobre as Reações de Três Grupos Diferentes” e “Algumas considerações de ordem histórica, sociológica e psicopedagógica sobre o Sistema Braille”. Trabalhou com o grupo Notas e Voltas do Banco de Portugal, e dinamizou o coro da Escola Secundária José Afonso, do Seixal. O investigador musical João Carlos Calixto descreveu-o na sua página do Facebook como “um dos músicos fulcrais na recriação das nossas tradições”.
O velório de Vítor Reino realizou-se na Igreja de Vale na Figueira, no Feijó, em Almada, de onde o corpo partiria para o cemitério local, de Vale de Flores, no Feijó, onde seria cremado, indicou a Associação Nacional para a Inclusão dos Cidadãos com Deficiência Visual, a que o músico pertencia – noticiou 24 de maio 2020 o Diário de Castelo Branco. A sua morte foi também noticiada pelo Expresso, Observador, Diário de Notícias e Renascença.
Vítor Reino