Mealhada e as suas filarmónicas
Filarmónicas da Mealhada
Bandas de Música, História e Atividades no Concelho
- Associação Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de agosto
- Filarmónica Pampilhosense
Associação Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de agosto
A Associação Filarmónica Lyra Barcoucense 10 de Agosto teve a sua origem em 1905, quando um grupo de músicos de instrumentos de cordas se juntou e decidiu criar uma Tuna, com a finalidade de recrear os serões de então. Tinham como maestro José Eliseu de Coimbra. Devido à evolução natural do grupo e também às novas exigências dos festejos, a Tuna passou a englobar também instrumentos de sopro, que gradualmente foram tomando o lugar dos instrumentos de cordas, acabando estes últimos por desaparecer por completo poucos anos mais tarde.
Em 1919, na data que está associada ao nome, passou a designar-se por Filarmónica, com o nome que mantém (nome inspirado naturalmente nessa data) e nesta altura já não fazia parte do seu instrumental qualquer instrumento de cordas. Os primeiros Estatutos foram elaborados em 1954 e aprovados em 12 de Julho desse ano, pela F.N.A.T. (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho). Os estatutos em vigor foram revistos, atualizados e aprovados em Assembleia Geral e pelo INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres para Trabalhadores).
A modificação dos Estatutos foi realizada em Coimbra, em 2003. Com a construção de uma sede, na década de 60, deu-se mais um passo decisivo para o engrandecimento patrimonial e cultural da Filarmónica. Barcouço passou a ter uma infraestrutura direcionada para atividade recreativa/cultural popular, não só ao serviço da Filarmónica mas também aberta à colaboração de outras organizações culturais/desportivas/recreativas que desejem usufruir desse espaço.
Daí para cá muitas foram as instituições, grupos e pessoas singulares que utilizaram as instalações para promover a cultura, o desporto e o convívio. Os laços que ligaram (e continuam a ligar) a Filarmónica a essas organizações/pessoas foram-se estreitando, compartilhando, em muitos casos, os próprios elementos. Dessas organizações culturais destacam-se: Escola Primária de Barcouço; Infantário, Centro de Dia; Associação “O Planalto”; Grupo de Teatro; Ranchos Folclóricos; Grupo de Cavaquinhos; Grupo de Música Popular; Cordas e Cantares. Alguns destes grupos artísticos, naturalmente amadores, têm surgido e desaparecido gradualmente, mas a sua memória permanece viva nos nossos corações nostálgicos.
Mais recentemente existiram três formações musicais que, embora tenham funcionado de forma independente, orbitaram na esfera de influência musical da filarmónica, foram estas: “O Cambão” – executantes de música de raiz mais popular; “Sonocracia” – grupo de música experimental, ainda que igualmente com influências populares, cultivando essencialmente uma sonoridade acústica e apresentando alguns temas originais; “FunFarra” – grupo de executantes de instrumentos de sopro, paralela à filarmónica, inspirado no cruzamento de formações reduzidas como grupos de música de câmara e de pequenas fanfarras. Merece ainda destaque a Lyra – Escola de Música. Começou por funcionar de forma mais estruturada desde a década de 80, apoiada, na altura, pelo maestro e por alguns músicos mais antigos, com mais conhecimentos musicais.
Desde do início deste século, tem havido um esforço continuado no sentido de se trabalhar de forma ainda mais estruturada, com uma dinâmica mais próxima da profissionalização e com necessidade de se recorrer formadores externos. É de realçar o trabalho meritório desenvolvido por todos os maestros que se esforçaram em prol do desenvolvimento da Filarmónica. Na instituição começaram as suas carreiras alguns reconhecidos profissionais da música, e alguns alcançaram posições de destaque no meio musical nacional, especialmente militar.
Filarmónica Pampilhosense
O desenvolvimento da indústria na Pampilhosa, que teve o seu início no final do séc. XIX, com o entroncamento da Linha da Beira Alta com a Linha do Norte, fez com que o associativismo e a música passassem a integrar o dia-a-dia dos trabalhadores de então. Assim, surgiu em 1894 uma das primeiras bandas de que há registo, a Banda dos Teixeiras, organizada por João Teixeira Lopes e Júlio Teixeira Lopes, empresário da Fábrica Mourão, Teixeira Lopes e C.ia.
Em 1913, foi fundada a “Tuna Recreativa da Pampilhosa” por Joaquim da Cruz, empresário da Fábrica de Serração Thomaz da Cruz. A bandeira, comprada a expensas do Povo, foi pintada pelo pintor conimbricense António das Neves Eliseu. Mais tarde, os instrumentos da Fábrica dos Teixeiras foram vendidos a um grupo de Pampilhosenses que, em 1920, decidiram organizar uma filarmónica. Foi então assinada a escritura da sociedade no Domingo, dia 9 de Maio daquele ano, pelo seu primeiro Presidente, Prof. Guilherme Ferreira da Silva, surgindo a “Filarmónica Pampilhozense”, com sede na “escola oficial de Pampilhoza do Botão”. A sua primeira bandeira foi a da Tuna. Quando esta acabou, foi repintada com o nome da Filarmónica e respetiva data de fundação. Ricardo Campos foi o seu primeiro regente, que vinha de Coimbra de comboio para os ensaios regulares, jantando numa das Hospedarias da Estação. O seu ordenado era de três escudos por ensaio. Em 1924 a regência passa a ser da responsabilidade de Manuel Maria Simões Pleno, de Santana, Figueira da Foz, passando, dois anos depois, a batuta ao seu filho, Joaquim Maria Simões Pleno, que se mantém no comando durante 64 anos.
Nos seus primeiros 32 anos de vida, a Filarmónica Pampilhosense conheceu cinco sedes provisórias, até que em 1952 foi finalmente construída e inaugurada a sua primeira sede oficial. Esta foi derrubada findos 35 anos de serviço, dando lugar à atual Sede, edificada com um grande esforço dos pampilhosenses, executantes e da direção, liderada pelo Presidente Joaquim Tomé. Os seus estatutos foram renovados em 1953, sofrendo uma nova renovação em 2006.
Em 1990, Joaquim Pleno abandonou a regência por motivos de idade. A direção artística passou a ser da responsabilidade do seu filho, Manuel Lindo Pleno. No ano seguinte, por ocasião do 71.º aniversário da FP foi prestada a justa homenagem ao Maestro Joaquim Pleno, quando lhe foi concedida a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Mealhada.
A 12 de Janeiro de 1996 a FP filiou-se, com o n.º 1552, na Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (nome oficial desde 2004), tendo sido declarada como Coletividade de Utilidade Pública em 1998. Integra também a Federação das Associações Musicais do Distrito de Aveiro (FAMDA), renascida da Associação de Bandas de Música Civis do Distrito de Aveiro, à qual a FP estava associada desde 1993.
A Associação conta neste momento com cerca de 600 sócios e a banda é constituída por meia centena de elementos, oriundos na sua maioria da freguesia da Pampilhosa, mas também das freguesias de Vacariça, Botão, Luso e Murtede. A Banda tem sido solicitada para diversos pontos do país, incluindo Cortegaça, Guarda, Arganil, Braga, Grândola e Galveias. Em 2002 deslocou-se a Angra do Heroísmo (Ilha Terceira – Açores), para participação nas Sanjoaninas, importante manifestação cultural do arquipélago.
A sua internacionalização aconteceu em 2003, com a deslocação a Courcoury, França, vila com a qual a Pampilhosa está geminada. Em 2005 efetuou uma viagem à Bélgica, para participação no 222.º aniversário da Koninklijke Harmonie (Real Filarmónica) “Concordia et Docilitas”, de Herdersem (Aalst), recebendo-a na Pampilhosa no ano seguinte. Em 2006 a FP subiu ao palco do Cine-Teatro Messias (Mealhada), juntamente com a Orquestra Clássica do Centro (Coimbra), apresentando, em concerto de Ano Novo, a “Suite Portuguesa n.º1” de Ruy Coelho, dirigida pelo Maestro Virgílio Caseiro. A direção do último andamento coube ao Maestro Manuel Pleno. Por esta altura, surge um novo projeto no âmbito da música jazz: a OLPA big band (Orquestra Ligeira Pampilhosense).
A OLPA é constituída quase na totalidade por elementos da Banda. A 22 de Agosto do mesmo ano, a Associação viveu uns dos dias mais negros da sua história, aquando da morte, por doença prolongada, do seu diretor artístico e um dos filhos da terra, o Maestro Manuel Lindo Pleno. Homenageado pela Instituição a 29 de Setembro, num concerto-homenagem dirigido pelo seu filho, Paulo Pleno, recebeu, a título póstumo, a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Mealhada no dia 23 de dezembro, no decorrer de um concerto conjunto no Cine-Teatro Messias, com a FP e o Grupo Coral Magister (Mealhada), dirigido por Daniel Vieira.
Daniel Vieira nasceu em 1976 na Pampilhosa. Estudou com os maestros Joaquim e Manuel Pleno, e entrou na Filarmónica em 1990. É licenciado em Ensino da Música. Em 2006, substituiu Manuel Pleno na regência, lugar que acumula com a presidência da direção desde 2015.
Da autoria de Daniel Vieira, foi publicado em 2012 o livro Filarmónica Pampilhosense – da génese ao infinito. Daniel Vieira. Ed. FP 2012, com prefácio de Vitor Matos, ao tempo o presidente da Junta de Pampilhosa (concelho de Mealhada): O homem sonha e a obra nasce… Histórias, episódios da vida real, registos diversos, documentos e fotografias de todas as épocas e, sobretudo, muita pesquisa e consulta, foram fontes importantes para o suporte e sucesso deste trabalho, onde a evolução das várias fases da sua Sede e o património adquirido, como o instrumentário, também não foram esquecidos.
Daniel Vieira aborda, de uma maneira geral, as grandes temáticas respeitantes à Associação e vai inspirar-se na imensa riqueza histórica da freguesia, desde a sua origem e evolução até aos nossos dias, realçando o grande impulsionador do nosso progresso e desenvolvimento – o Caminho de Ferro – e, consequentemente, o aparecimento das várias indústrias e a explosão demográfica da terra, que fizeram surgir várias associações e coletividades de caráter social, cultural, desportivo e recreativo.