Ponte da Barca e as suas oficinas de instrumentos
Oficinas de instrumentos musicais em Ponte da Barca
Construção artesanal, manutenção, transformação, reparação, restauro e afinação de instrumentos
Gaiteiros de Bravães
Os Gaiteiros de Bravães são um coletivo interessado na recuperação dos ofícios de construir e tocar gaita de foles em Bravães. A sua oficina foi criada no âmbito da Escola de Artes e Ofícios, com o apoio da EPRALIMA e do Município de Ponte da Barca.
2020 foi o ano que os Gaiteiros de Bravães fizeram as primeiras gaitas no primeiro curso de construção de gaitas de fole em Bravães, com o mestre Jorge Lira. Foi o ano em que organizou o Anda à Varanda 2020, que acolheu em Bravães tanta gente notável na música tradicional portuguesa. Foi o ano em que iniciaram as aulas de gaita de foles com um dos melhores professores do país, o Ricardo Coelho. Acabaram o ano com os primeiros ponteiros de treino feitos em impressora 3d entregues.
10 de março é o dia internacional da gaita de fole, um instrumento que se toca em Portugal desde que é país. No contexto alto-minhoto, manteve-se em lugar de destaque na música tradicional até à invasão das concertinas, que condicionaram a musica tradicional da segunda metade do seculo XX e tornaram mesmo a concertina no principal instrumento tradicional minhoto. Ao mesmo tempo, na Galiza, a gaita continuou a ser tocada, investigada e melhorada, assumindo-se como símbolo identitário da região.
Nas últimas três décadas tem-se verificado uma inversão do processo de extinção das várias tipologias de gaitas portuguesas. O contributo dos Gaiteiros de Bravães na música tradicional portuguesa é manter viva e melhorar a gaita de Bravães, um instrumento com características únicas, que contribui para a diversidade da “floresta” gaiteira portuguesa.
A gaita de fole foi durante séculos um instrumento basilar nas festas minhotas. Há mais de um século anunciava-se assim a festa de São Pedro de 1919 em Ponte da Barca: “Um grupo de rapazes e maduros gaiteiros, com crença à dança, promove uma festa tesa, mesmo muito tesa.”
A missão dos Gaiteiros de Bravães é democratizar o acesso à gaita de foles na nossa terra e arredores, possibilitando que as gaitas de fole regressem às festas minhotas, de onde se foram afastando progressivamente na segunda metade do século XX. Com base na antiga gaita de foles de Bravães, que tinha uma escala modal está a desenvolver variantes da gaita de Bravães, com afinação ajustada aos nossos dias.
Os dois primeiros instrumentos na oficina são réplicas de uma gaita produzida, em 1950, por um construtor da freguesia, Emílio de Araújo. O instrumento original integra o espólio do Museu de Etnologia de Lisboa, e está documentado nas recolhas do etnólogo Ernesto Veiga de Oliveira, entre anos de 60 e 63.
“A gaita de Bravães não será caso isolado no fabrico artesanal do noroeste português que chegou à segunda metade do século XX, mas é a única oficina devidamente documentada, graças às recolhas de Ernesto Veiga de Oliveira”, refere o grupo.
Terra de gaitas de foles e gaiteiros, Bravães assiste, “com muito interesse” ao ressurgimento de uma tradição antiga. “A minha avó nasceu em 1927, filha de um gaiteiro, e diz que desde pequena que se lembra do pai ir para as festas tocar gaita de foles”, destacou Rafael Freitas.
As gaitas de Bravães têm uma afinação diferente. “Normalmente, as gaitas são afinadas em Dó, mas as de Bravães são afinada em Si. Depois, foi concebida para tocar no meio de muitos grupos de bombos, típicos das romarias do Alto Minho. O cone acústico está desenvolvido de uma forma que lhe dá um timbre muito mais alto, resultando num som muito potente”, explicou.
Inicialmente, as gaitas “eram construídas em madeira de buxo, espécie entretanto declarada protegida”. Atualmente a madeira de oliveira passou a ser uma “alternativa ambientalmente sustentável e de muito mais fácil acesso”.
Já o fole das gaitas era “feito com pele de animais, normalmente o cabrito”, material substituído pelo Gore-Tex.
Para além de reativar o fabrico, os Gaiteiros de Bravães querem continuar “a sensibilizar e formar novos tocadores de gaita e outros instrumentos musicais tradicionais, como as percussões e os cordofones, contribuindo para a manutenção da diversidade das tradições musicais locais”.
Fonte: Lusa, 05/01/2020
Há 3 anos não sabia que as gaitas se faziam. Pensei que já se compravam feitas. Hoje já fiz duas completas, mais uma série de ponteiros. Há 3 anos dava uns toques de gaita de foles, mas não gostava de tocar porque achava difícil. Hoje faço romarias de vários km por caminhos de serra sempre de gaita na boca. Tudo graças às aulas em Bravães, primeiro com o mestre Jorge Lira a construir, depois com o mestre Ricardo Coelho a tocar. A segunda edição dos cursos de construir e tocar gaita estão a arrancar agora, na próxima semana, com o mestre Luis Rocha que constrói as suas próprias gaitas, de uma família de Arcos de Valdevez que vai já na quarta geração consecutiva de gaiteiros.
Rafael Freitas