Porto e os seus arquivos musicais
Arquivos do Porto
Espólios, acervos, coleções e arquivos musicais da Cidade
Arquivo Distrital do Porto
Localizado na Rua das Taipas, 90, 4050-598 Porto, o Arquivo Distrital do Porto “guarda uma coleção de 35 fragmentos de livros de coro anteriores a 1500 (antifonários, graduais, breviários), na sua maioria capas retiradas dos livros paroquiais dos sécs. XVI a XIX, 13 dos quais estão catalogados e estudados (BN 2001). A coleção não está tratada do ponto de vista musicológico (não existe qualquer estudo sobre a totalidade do espólio), encontrando-se a maior parte dos fragmentos em avançado estado de degradação.” (EMPXX)
Biblioteca Pública Municipal do Porto
A BPMP está localizada na Rua D. João IV ao Jardim de São Lázaro, 4049-017, Porto. Existe nesta biblioteca um catálogo do fundo musical, não abrangente, que refere por ordem aleatória, 80 manuscritos, em volumes ou cadernos, dos quais 67 contêm música sacra (teoria, cantochão, polifonia clássica e concertante).” (EMPXX)
Casa da Música
Espólio de Luiz Costa
Luiz António Ferreira da Costa deixou quase 180 composições, grande parte das quais ainda inéditas. Mesmo das 24 obras com número de opus (que devem ser vistas como obras de maior relevância para o compositor), um terço nunca foi editado. As partituras da sua única Sonata para piano, das duas Sonatas para Violino e Piano e do Quinteto com piano, entre outras, aguardam ainda a publicação.
A inventariação e catalogação das obras de um compositor é um contributo da História da receção, uma área importante dentro da disciplina de Musicologia. No caso concreto das obras de Luiz Costa, é de salientar o facto de muitas delas fazerem parte do repertório dos músicos já há mais de meio século, uma prova da estima de que gozam. Além disso, durante décadas, muitas composições de Luiz Costa fizeram parte do programa dos cursos de piano no Conservatório Nacional e no Conservatório de Música do Porto. Algumas obras, no entanto, cujos manuscritos estão incluídos no presente catálogo, só foram descobertas durante este trabalho.
João-Heitor Rigaud, num artigo escrito originalmente para uma mesa redonda no âmbito dos Cursos de Música Luiz Costa de 2008, afirma que, sob aspetos formais, nas composições de Luiz Costa, “cada peça acaba por resultar da anterior e conter o ponto de partida para a seguinte¹. Como, porém, a ordem utilizada neste catálogo não comunica a cronologia da obra na sua totalidade, foi inserida, a seguir à Introdução, uma tabela cronológica, com todas as composições datadas na coluna esquerda e com eventos relevantes na vida de Luiz Costa na coluna direita. Na tabela, as composições que foram modificadas várias vezes ao longo dos anos aparecem apenas sob a primeira data conhecida. Para se informar sobre todas as modificações de uma obra, deve, portanto, consultar-se o próprio catálogo. Nalguns casos, é extremamente interessante comparar as diferentes versões. Um caso especial neste sentido será o das Telas Campesinas, op. 6: as quatro peças foram compostas e recompostas ao longo de três décadas até atingirem última versão.
O conhecimento das ponderações e hesitações de um artista é importante para poder apreciar o seu labor e, até certo ponto, a sua natureza. As qualidades principais deste mestre foram descritas com palavras simples e belas pelo musicólogo Mário Simões Dias, provavelmente a propósito da morte do compositor: “a honestidade, a seriedade de expressão, o encanto discreto e subtil duma fina sensibilidade, distribuíram-se igualmente pela sua obra e pela sua pessoa”².
A seriedade e o respeito de Luiz Costa em relação à Música fizeram com que se mantivesse em busca permanente da solução mais equilibrada relativamente aos aspetos formais (harmonia, ritmo, melodia e proporções das partes) de cada composição. A modéstia e a honestidade do seu carácter deverão ser responsáveis também pelo facto de ter composto a primeira obra de música de câmara (o Quarteto de cordas op. 5) apenas com 42 anos de idade.
Esta coerência entre o artista e o homem é um dos pontos a conceder uma importância particular à sua obra musical dentro da história da música portuguesa. Outros pontos são, sem dúvida, os seus contributos para o género de peça de carácter (ou peça lírica) e para a corrente estética do neoclassicismo que naquela altura se disseminava pela música erudita “ocidental”. Com a sua atmosfera e as ideias temáticas inconfundivelmente portuguesas, a obra de Luiz Costa é uma pedra preciosa no mosaico da música europeia do seu tempo.
O primeiro objetivo da catalogação dos manuscritos do mestre portuense é, portanto, dar a conhecer o conteúdo completo do seu espólio musical, com o fim de facilitar a descoberta de mais obras valiosas suas para serem editadas. Em certos casos, o catálogo serve para tirar dúvidas relativas às versões definitivas das respetivas composições. Do Quinteto com piano, op. 12, por exemplo, nos vários concertos em que já foi tocado utilizou-se sempre uma versão que mais tarde sofreu ainda modificações significativas pelo compositor.
A fim de poder fornecer informações como esta, foi preciso analisar todos os manuscritos, isto é, todas as “versões” de cada composição nos vários estádios percorridos até à versão definitiva, e listá-los cronologicamente. Como alguns · manuscritos se encontram perdidos ou incompletos, este trabalho não foi possível em todos os casos, mas sim na sua maioria. Revelando deste modo a génese de cada obra, o catálogo servirá também como base para futuras investigações, o seu segundo objetivo. Recentes estudos sobre o compositor mostram o interesse existente pela sua obra (v. anexo “Bibliografia”).
O terceiro objetivo deste catálogo é o de poder servir de modelo para trabalhos semelhantes: o levantamento e a catalogação de um espólio musical que abrange todos os manuscritos, desde os primeiros esboços até às versões finais das composições, incluindo exercícios, arranjos e projetos abandonados.
A descrição dos manuscritos segundo as categorias desenvolvidas no âmbito do trabalho e a atribuição de uma cota a cada um deles facilitam a sua identificação no espólio arquivado. O espólio encontra-se no Porto, na casa particular da violoncelista Madalena Sá e Costa, filha do compositor.
¹ João-Heitor Rigaud, “Luiz Costa: um mestre compositor musical”, em: glosas, n.º1, Maio de 2010, p.60
² Citação de Hernâni Monteiro, Luís Costa. Em: Arte Musical, III Série N.º 10, Abril 1960, p. 296
Espólio do Orpheon Portuense
O Orpheon Portuense foi fundado em 1881 pelo violinista, compositor, maestro, musicologo e pedagogo Bernardo Moreira de Sá, tendo desempenhado um importante papel na dinamização musical da cidade do Porto desde a sua formação até finais do século XX. Para além de promover a atividade musical a nível amador dos seus sócios, quer no âmbito da música coral quer ao nível da música de câmara, o Orpheon Portuense destacou-se na organização de concertos transformando-se rapidamente na mais importante instituição promotora de concertos na cidade, atividade que manteve ao longo de todo o século XX. A carreira internacional de grandes artistas nacionais como Guilhermina Suggia teve o seu impulso inicial no âmbito dos concertos do Orpheon.
Grandes solistas, orquestras e maestros internacionais apresentaram-se pela primeira vez em Portugal por iniciativa do Orpheon, o qual teve um papel determinante para a divulgação de novos repertórios em Portugal, na animação cultural de diversos espaços na cidade do Porto e distritos limítrofes, bem como na encomenda de novas obras a compositores portugueses, na formação de públicos, e no estímulo da excelência musical aos mais diversos níveis.
Quando o Orpheon Portuense foi extinto enquanto sociedade por quotas (a mais antiga Sociedade de Concertos da Península Ibérica) deixou um espólio documental (com mais de 3.000 documentos) que testemunha toda a sua atividade. O espólio foi doado à Fundação Casa da Música e encontra-se na sua Mediateca, após ter sido alvo de uma inventariação. Este espólio representa um património inestimável para a caracterização da vida musical portuense desde os finais do século XIX. A sua parte mais significativa é constituída por partituras, programas de sala, recortes de imprensa, fotografias de artistas, muitas das quais autografadas, diplomas, documentação administrativa, recortes de imprensa e materiais publicitários. A Fundação Casa da Música disponibiliza ainda o espólio documental do Orpheon Portuense para consulta a estudantes universitários, investigadores e estudiosos no domínio da História da Música e da Cidade do Porto.
Conservatório de Música do Porto
O Conservatório de Música do Porto “possui um acervo com mais de 7000 partituras (das quais 300 são manuscritos, 49 são obras de compositores portugueses, 200 são partituras de ópera), 100 libretos, 5000 livros e vários documentos musicais em arquivo. Possui cerca de 300 discos (40 de 78 rpm) e 275 CD. Dos seus espólios destacam-se as doações de Guilhermina Suggia, Bernardo Moreira de Sá, Cláudio Carneiro, Óscar da Silva, Berta Alves de Sousa, constituídos por vários tipos de documentos (correspondência, partituras originais, programas de concertos, diplomas, medalhas, fotografias).” (EMPXX)
Escola das Artes
Sala Maestro Manuel Ivo Cruz
O Maestro Manuel Ivo Cruz fez a doação do seu espólio musical à Universidade Católica Portuguesa. Ao longo dos 50 anos de carreira como chefe de Orquestra, o Maestro Manuel Ivo Cruz, dirigiu a maior parte das obras que se inscrevem no reportório da música sinfónica. É porventura o Maestro português que mais ópera dirigiu, quer em quantidade mas principalmente em diversidade. Também dirigiu em 1ª audição absoluta ou 1ª audição moderna em Portugal, obras de compositores como António Victorino d’Almeida, Cláudio Carneyro, João Domingos Bomtempo, ou João Pedro Oliveira.
A par da sua longa atividade artística, o maestro Manuel Ivo Cruz cultivou uma bibliofilia intensa que lhe permitiu reunir o importante acervo documental subjacente ao protocolo estabelecido entre o maestro e o Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa. O destaque do espólio vai para as fontes relevantes do Património Musical Português dos finais do século XIX e primeira metade do Século XX, entre as quais se encontram a obra integral do compositor Ivo Cruz, ou ainda peças de Miguel Ângelo Pereira, Ciríaco de Cardoso ou João Arroyo entre outros.
No entanto, o espólio contém inúmeros itens, tais como partituras de orquestra, óperas, música de câmara portuguesa, muitas delas dirigidas em primeira audição pelo próprio maestro. O acervo é ainda enriquecido por vários libretos dos séculos XVIII e XIX, gravuras, discos, coleções de postais e selos, programas de concerto ou ainda inúmeros livros de referência.
A Universidade Católica Portuguesa, através da linha de ação de Estudos Musicais, do Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes (CITAR),comprometeu-se a proceder à acomodação, tratamento e divulgação do espólio doado, utilizando-o para enriquecer o projeto científico e artístico da Universidade, sendo-lhe atribuído uma sala (Sala Maestro Manuel Ivo Cruz) e disponibilizar o espólio a quem demonstre interesse em conhecê-lo, estudá-lo e interpretá-lo.
Em 25 de maio de 2021, a Biblioteca da Universidade Católica Portuguesa no Porto convidou para a reabertura da nova Sala Maestro Manuel Ivo Cruz. Um espaço que reúne uma biblioteca especializada em música portuguesa: partituras, libretos, programas, gravuras, cartazes, discos, postais, selos e Iconografia colecionadas pelo maestro, com Dia de Portas Abertas a 4 de junho.
Seminário Maior do Porto
Situado no Largo D. Pedro Vitorino, 2, 4050-468 Porto, o Arquivo do Seminário Maior do Porto “guarda uma coleção de 22 livros de coro e cantochão dos sécs. XVII e XVIII, provenientes de mosteiros agostinianos, beneditinos e carmelitas da região, entregues ao seminário em 1890 pela direção da Biblioteca Pública Municipal do Porto.” (EMPXX)