Porto e os seus órgãos de tubos
Órgãos de tubos do concelho do Porto
O Porto é uma cidade e concelho com uma longa e rica História e isso reflete-se nos seus órgãos de tubos. É um dos três concelhos com mais extenso portefólio de instrumentos do género em Portugal e a cidade portuguesa com mais grandes órgãos nos últimos 50 anos. A cidade tem condições ótimas para a realização de ciclos de órgão e festivais como o Festival Internacional de Órgão do Porto e Grande Porto. Destacam-se entre as instituições académicas, o Conservatório de Música do Porto, a Escolas das Artes e a Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos, na Torre da Marca, esta mais voltada para a formação de organistas para as paróquias. De acordo com as informações de que dispomos, os órgãos de tubos existentes no Concelho são os seguintes:
Capela do Cemitério de Agramonte
A Capela do Cemitério de Agramonte dispõe de um órgão histórico da autoria de Augusto Joaquim Claro, construído em 1890, com teclado manual dividido com quatro registos com pedal de expressão, restaurado em 1996 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden (com sede em Esmoriz).
Capela das Almas
A Capela das Almas, na Rua de Santa Catarina, dispõe de órgão de um teclado manual com dez meios registos [ I ; (5+5) ], da autoria de José Joaquim Fonseca?, construído no XIX?, restaurado em 1993 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 3.
Conservatório de Música do Porto
Órgão positivo moderno de estudo
Escola das Artes
UCP
Órgão positivo de estudo
Piso -1, sala 2
> Piso -1, sala 9
Piso -1, sala 10
Sala de orquestra
Órgão positivo de estudo
Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos
A Escola Diocesana de Ministérios Litúrgicos, no Centro de Cultura Católica, Torre da Marca, possui um órgão positivo de estudo.
Montra
Igreja Anglicana de St. James
A Igreja Anglicana de St. James possui um órgão de tubos.
Igreja da Boavista
Órgão moderno
A Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Boavista, também conhecida como Igreja do do Foco, dispõe de um órgão da autoria de Joaquin Lois Cabello, construído em 2004, de dois manuais e pedaleira.
Igreja da Conceição
No coro alto sobre a entrada, a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida por Igreja do Marquês, possui um grande órgão Georges Heintz, construído em 1998, de três manuais e pedaleira, com acoplamentos.
> transepto: órgão positivo
Igreja da Esperança
A Igreja do Colégio de Nossa Senhora da Esperança possui um órgão histórico de tipo inglês Peter Conacher & Co., construído em 1891, restaurado por António Simões em 1989.
Igreja da Foz do Douro
A Igreja Paroquial da Foz do Douro (São João Batista) possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de António José dos Santos, construído em 1868.
Igreja da Lapa
No coro alto sobre a entrada, a Igreja da Lapa apresenta um grande órgão Georg Jann, construído em 1995, de quatro manuais e pedaleira com acoplamentos.
Grande órgão Jann
Filipe Veríssimo e o grande órgão da Lapa
Igreja da Misericórdia do Porto
A Igreja da Misericórdia do Porto possui um órgão com um teclado manual e pedaleira, vinte meios registos [ I+P (10+10) ] da autoria de António José dos Santos Júnior, construído em 1888, inventariação e proposta de restauro pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, com sede em Esmoriz, em 1996, opus 16.
Órgão ibérico
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
A Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, ou dos Terceiros de S. Francisco, possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto, construído em 1801.
Igreja da Trindade
A Igreja da Celestial Ordem da Santíssima Trindade possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto, construído no séc. XIX.
Igreja da Vitória
A Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória possui no coro alto um órgão histórico.
Igreja de Campanhã
A Igreja Paroquial de Nossa Senhora de Campanhã possui um órgão de tubos.
Igreja de Cedofeita
A Igreja Paroquial de São Martinho de Cedofeita, ou Igreja Nova de Cedofeita, dispõe de um grande órgão Th. Kuhn, inaugurado em 2000, de três teclados manuais e pedaleira, com acoplamentos.
Grande órgão moderno
Igreja de Lordelo do Ouro
A Igreja de São Martinho de Lordelo do Ouro possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto, construído por volta de 1800.
Igreja de Massarelos
A Igreja Paroquial de Massarelos (corpo Santo) possui um órgão de tubos.
Igreja de Miragaia
A Igreja Paroquial de São Pedro de Miragaia possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de António José dos Santos, construído em 1864.
Igreja de Paranhos
A Igreja Paroquial de São Veríssimo de Paranhos dispõe de um órgão histórico da autoria de António José dos Santos, construído em 1884, restaurado em 1991 por António Simões.
Órgão ibérico
Igreja de Ramalde
A Igreja Paroquial São Salvador de Ramalde, ou Igreja Nova de Ramalde, possui um órgão de coro, moderno, do organeiro Heintz.
Igreja de Santa Clara
Em tribuna própria, no lado da Epístola, a Igreja do Convento de Santa Clara apresenta um órgão histórico da autoria do Padre Lourenço da Conceição, seg. W. Jordan, construído em data desconhecida.
Órgão em tribuna própria
+ Órgão positivo
Igreja de Santo Ildefonso
A Igreja Paroquial de Santo Ildefonso dispõe de um órgão de dois teclados manuais [ II ; (12+13)] da autoria de Manuel de Sá Couto, construído em 1811, restaurado em 2006 pela Oficina e Escola de Organaria, de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 49.
Igreja de São Bento da Vitória
A Igreja do antigo mosteiro beneditino de São Bento da Vitória possui um órgão histórico de tipo ibérico, de dois teclados manuais [ II; (22+21) ], da autoria de Fr. Manuel de São Bento (c. 1720), inventariação e proposta de restauro da Oficina e Escola de Organaria, opus 17, em 1996, restaurado em 2001 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 32.
Órgão do lado da Epístola
Órgão mudo
Igreja de São Francisco
A Igreja do antigo Convento de São Francisco possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Francisco António Solha, construído em 1770.
Igreja de São João da Foz
A igreja de São João da Foz possui no coro alto um órgão Heintz que se encontrava na Escola das Artes (Sala 1.10). Foi inaugurado no novo local pelo organista Pedro Monteiro em 2024. Ganhou nova vida numa das melhores acústicas para música barroca.
Igreja de São João Novo
Órgão histórico
Igreja de São José das Taipas
A Igreja de São José das Taipas possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto?, construído em data desconhecida.
Órgão em tribuna própria
Igreja de São Lourenço
A Igreja de São Lourenço, também conhecida por Igreja dos Grilos, ou Igreja do Colégio dispõe de um órgão histórico de tipo ibérico de um teclado manual [ I;(14+14) ], (c. 1785) restaurado em 1998 pela Oficina e Escola de Organaria, de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 24.
Órgão ibérico
Igreja de São Nicolau
A Igreja Paroquial de São Nicolau possui um órgão de tubos.
Igreja do Bonfim
A Igreja Paroquial do Senhor do Bonfim e da Boa Morte possui no coro alto um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Frei Domingos Varela, construído em 1817. Foi executado para o Mosteiro de S. Bento de Ave Maria, desaparecido, donde foi mudado para a Igreja do Bonfim.
Igreja da Ordem Terceira do Carmo
A Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo , ou dos Terceiros do Carmo, dispõe de um órgão histórico Peter Conacher & Co., construído em 1881.
Órgão e coro alto
Igreja do Carmo
A Igreja do Carmo ou dos Carmelitas Descalços possui um órgão histórico de tipo ibérico.
Órgão em tribuna do lado da Epístola
Igreja do Terço
A Igreja de Nossa Senhora do Terço e Caridade possui um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de António José dos Santos, construído em 1863.
Igreja dos Anjos
Na Rua dos Bragas, a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos possui um órgão de tubos.
Igreja dos Clérigos
Rui Soares é desde dezembro de 2015, responsável pelos concertos de órgão diários na Igreja dos Clérigos no Porto.
Do lado do Evangelho, em tribuna própria na Capela-mor, a Igreja dos Clérigos dispõe de um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de J.L. Ciais Ferraz de Acunha, construído em 1774. Foi reparado em 1989 por António Simões a expensas do IPPC, e restaurado pela firma Acitores Organería y Arte, S. L. / Atelier Samthiago.
No lado da Epístola, em tribuna própria na Capela-mor, a Igreja dos Clérigos dispõe de um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de J.L. Ciais Ferraz de Acunha, 1774, restaurado pela firma Acitores Organería y Arte, S. L. Atelier Samthiago.
Órgãos na Capela-mor
Igreja dos Congregados
A Igreja dos Congregados dispõe de um órgão histórico de tipo ibérico da autoria de Manuel de Sá Couto, construído por volta de 1815, reparado por António Simões em 1997.
Montra do órgão
Igreja dos Redentoristas
Igreja do Mirante
A Igreja Evangélica Metodista do Mirante possui um órgão William Sweetland, datado de 1924.
Sé do Porto
lado do Evangelho
Na Capela-mor, do lado do Evangelho, a Sé do Porto apresenta um órgão histórico de tipo ibérico da autoria do Padre Lourenço da Conceição, construído em 1726. Foi restaurado por Dinarte Machado – Atelier Português de Organaria em 2017.
Na Capela-mor, em tribuna própria
lado da Epístola
Na Capela-mor, em tribuna própria do lado da Epístola, a Sé (Catedral) do Porto apresenta um órgão histórico de tipo ibérico da autoria do Padre Lourenço da Conceição, construído em 1726. Foi reparado por António Simões em 1984, a expensas da Fundação Calouste Gulbenkian. Foi restaurado novamente em 2017, por Dinarte Machado – Atelier Português de Organaria.
Na, Capela-mor, em tribuna própria
Capela de São Vicente
A Capela de São Vicente possui um órgão de um teclado manual [ I; 5(1+2)] da autoria do P. Lourenço da Conceição, construído no séc. XVIII, inventariação e proposta de restauro pela Oficina e Escola de Organaria, de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 41, em 2003.
Órgão e tribuna
coro alto
No coro alto sobre a entrada, a Sé do Porto dispõe de um grande órgão de três teclados manuais e pedaleira com acoplamentos [ III+P ; 45 ] construído por Georg Jann, inaugurado em 1985, manutenção pela Oficina e Escola de Organaria, opus 11, em 1995. Tem tido uso regular em concerto desde a sua inauguração.
Seminário Maior do Porto
A Capela do Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição dispõe de um órgão Harm Kirschner, datado de 2002.
Órgão moderno
Órgão desaparecidos
O desaparecido Palácio de Cristal tinha um grande órgão.
FOI NOTÍCIA
Órgão de tubos da Capela de Nossa Senhora dos Anjos
A 8 de julho de 2004, a Agência Ecclesia informava que sábado, dia 10 de Julho, seria inaugurado o órgão de tubos na Capela de Nossa Senhora dos Anjos, Rua dos Bragas, Porto, a cargo dos Frades Franciscanos (OFM).
No âmbito de grandes obras de restauro e requalificação da Capela e da casa anexa que iriam proporcionar novos espaços para o desenvolvimento de ações pastorais e culturais dos Franciscanos no Porto, o novo Órgão substituiu outro anteriormente transferido para o Convento de Montariol.
Este novo instrumento foi concebido pelo organeiro Manuel Santos Fonseca e construído pela empresa Masof-Organ. É composto por três secções – grande órgão, expressivo e pedal tendo a consola dois manuais com extensão de cinquenta e seis notas. O pedal tem trinta e duas notas cromáticas.
No concerto inaugural, pelo organista Carlo Stella catedrático no Conservatório de Milão seriam interpretadas obras de diversos autores e épocas como Manuel Rodrigues Coelho (1570-1635); Pablo Bruna (1611-1679); Buxtehude (1637-1707); Johan Sebastian Bach (1685-1750); Carlos Seixas (1704-1742) e Juan de Sessé (1736-1801).
Grande órgão da igreja da Lapa
O órgão de tubos da igreja da Lapa possui um total de 4.307 tubos e um carrilhão de 42 sinos.
A 17 de Julho de 1756 iniciou-se a construção da igreja da Lapa, que viria a substituir uma Capela mais pequena. Na Capela-mor encontra-se o coração de D. Pedro IV, que foi oferecido pela viúva a Imperatriz D. Amélia de Beauharnais.
No dia 5 de maio de 1991, foi assinado na igreja o contrato de compra do órgão de tubos à firma alemã Georg Jann Orgelbau Meisterbetrieb. Assim, nos finais de maio de 1995, foi inaugurado o “grande órgão de tubos da Igreja da Lapa”. O construtor, Georg Jann, considera o instrumento que se encontra na Lapa a sua obra-prima, tendo-se mudado para Portugal para ficar mais próximo dela.
O maior tubo do órgão é de madeira e mede 10,12 metros de altura. O tubo mais pequeno é de metal e mede 9 milímetros.
Segundo Filipe Veríssimo, organista residente da igreja da Lapa, as principais diferenças entre o órgão da Lapa e os órgão ibéricos “residem principalmente no teclado”.
“O da igreja da Lapa tem quatro teclados, enquanto os ibéricos têm um, no máximo dois”, diz, acrescentando que os órgãos ibéricos se caracterizam por terem tubos na horizontal ou em chamada, mas, também, por terem teclado repartido e uma oitava curta, não possuindo pedais para tocar notas, mas sim para fazer efeitos, “como passarinhos e sininhos”.
A inspiração do órgão de tubos da Sé Catedral do Porto:
Muitos organistas portuenses, como Filipe Veríssimo e Rui Fernando Soares, que toca na igreja dos Carmelitas, descobriram a paixão por órgãos de tubos quando ouviram pela primeira vez o ressoar das teclas do instrumento da Sé Catedral do Porto.
Filipe Veríssimo teve um amor à primeira vista, quando ouviu a música que entoava das teclas deste tipo de órgãos. Segundo o organista da igreja da Lapa, esta sensação surgiu por volta de 1985, altura em que foi construído o órgão de tubos da Sé Catedral do Porto, grande impulsionador do restauro e construção de mais destes instrumentos na cidade.
“Comprei uma cassete com música de órgão e a partir desse momento fiquei obcecado por encontrar o instrumento que tivesse aquela sonoridade. Quando descobri o órgão da Sé Catedral do Porto, comecei a faltar às aulas para olhar os tubos”, afirmou Filipe Veríssmo.
Rui Fernando Soares sempre foi apaixonado por música, mas quando ouviu pela primeira vez um órgão de tubos – o da Sé Catedral do Porto – ficou impressionado. “Saí da Catedral do Porto aos berros quando ouvi o órgão a tocar, mas foi este medo que fez com que hoje tenha respeito por este tipo de instrumento”, referiu.
O órgão da Sé do Porto foi construído em 1985 e tem um total de 3.510 tubos. A construção deste instrumento impulsionou a edificação e restauro de órgãos de tubos por toda a cidade e diocese do Porto.
Cf. Marisa Ferreira, U.Porto, Ciências da Comunicação, 30 abril 2008
Órgão de tubos da igreja dos Carmelitas
Construído em 1784 pelo organeiro bracarense Jozé António de Souza. o órgão de tubos da igreja de Nossa Senhora do Carmo ou Carmelitas foi notícia em 2008, devido ao restauro de que foi alvo.
Para Rui Fernando Soares, organista do órgão dos Carmelitas, “o resultado final do restauro foi uma surpresa, pois ninguém conhecia o timbre do órgão”.
O órgão dos Carmelitas, de estilo ibérico, tem um total de 1.067 tubos. A empresa responsável pelo restauro do órgão dos Carmelitas, que se encontrava em avançado estado de degradação, foi a Orguian, criada por Georg Jann, responsável pela construção do órgão da Lapa.
Órgãos históricos da Sé do Porto
Em 2017 os órgãos históricos da Sé do Porto, do século XVIII, mas com alterações nos séculos seguintes, eram notícia, por estarem a ser alvo de operações de conservação e restauro que culminam em abril após cerca de dois anos de intervenção.
São dois órgãos de tubos que convivem frente a frente num templo classificado como Monumento Nacional, sendo um designado como “órgão do evangelho”, à esquerda para quem está de frente para o altar, e outro como “órgão da epístola”.
O mestre organeiro Dinarte Machado, responsável pelos trabalhos, descreveu à agência Lusa dois órgãos diferentes, cada qual com o seu bilhete de identidade, sendo que o instrumento da esquerda se identifica mais com o século XVIII e o outro com a primeira metade do século XIX.
“A harmonização está a ter em conta essas duas identidades. Mas apesar de as respeitar, é preciso perceber que eles vão tocar juntos. E para que toquem juntos é preciso fazer uma harmonização que dá ao órgão da epístola um som mais grave, complementando o que o órgão do evangelho não tem”, descreveu Dinarte Machado, organeiro há mais de três décadas.
O convite ao mestre que restaurou quase uma centena de órgãos do acervo histórico português, incluindo dezenas nos arquipélagos dos Açores e Madeira, os seis órgãos do conjunto histórico do Palácio Nacional de Mafra, e participou no restauro de instrumentos do Palácio Real de Madrid e da igreja de São Francisco, em Lorca, Espanha, surgiu por parte do Cabido da Sé do Porto, num processo autorizado pela Direção Regional de Cultura do Norte e acompanhado pelo cónego Ferreira dos Santos.
Dinarte Machado contou à Lusa que o trabalho da sua equipa surge depois de duas outras grandes intervenções, uma levada a cabo no século XIX por um organeiro da zona do Porto que assinava com o nome “Santos” e outra feita nos anos 1970 pela empresa holandesa Flentrop.
“O Santos fez uma intervenção no órgão da epístola e aumentou o número de registos graves de base. Foi muito inteligente da parte dele. Não desmistifica em nada o conjunto”, apontou Dinarte Machado que já sobre a operação levada a cabo pela empresa holandesa é menos otimista, considerando que a Flentrop “terá tentado manter as caraterísticas dos órgãos mas aplicou materiais que hoje não são concebíveis”.
“O trabalho dessa firma foi importante por pôr os instrumentos a tocar. Nos anos 1970 encontraram o órgão do evangelho totalmente degradado. Do ponto de vista de filosofia de conservação e restauro não foi uma catástrofe mas foi muito próximo”, analisou.
O mestre organeiro, que foi condecorado pelo Presidente da República e ganhou o prémio internacional Europa Nostra em 2010, teve agora a missão de recuperar a qualidade do vento, corrigindo a posição dos foles, peças que descreve como “os pulmões dos órgãos”.
“Se calhar há quem ache que qualquer um pode fazer isto desde que saiba apertar um parafuso. Não é bem assim”, alertou, acrescentando que conseguiu substituir os “materiais menos nobres” encontrados pelas corrediças originais e históricas que “por acaso estavam conscientemente guardadas”.
Soma-se a correção de aspetos mecânicos e, do lado da Epístola, a retirada de um forro de madeira de pinho considerado “prejudicial em termos acústicos”.
Paralelamente à intervenção deste mestre organeiro está a ser feita uma operação nas caixas – os armários – numa lógica de continuidade e cooperação entre artes que Dinarte Machado aplaude.
“Quando entramos numa igreja e olhamos para a caixa de órgão, esta pode não ter nada lá dentro mas ele já começa a soar. A imagem transmite aquilo que já estamos a ouvir pelo que nunca essa imagem pode ser entregue a alguém que não ouve”, apontou.
Preocupado com o futuro do património organeiro do país, Dinarte Machado realça que “é preciso pensar que o restauro dos instrumentos é importante, mas o primeiro mandamento para a manutenção de um órgão é que seja utilizado”, embora advirta para o “respeito pela peça”.
“É importante que as pessoas tenham consciência e digam ‘eu aprendi notas de música, sei tocar, sou dotado, mas a minha especialidade não é organista num órgão histórico’. Um polícia para isso é ridículo. Isto tem de estar na consciência das pessoas. A defesa do nosso património é a defesa da nossa própria identidade”, afirmou.
Quanto ao Porto, Dinarte Machado recomenda “a uma cidade que cada vez mais se expõe aos turistas” que preserve aquilo que é o seu património e a sua identidade, sem esquecer os seus órgãos de tubos.
A ideia do mestre organeiro, que recentemente foi convidado para académico correspondente da Academia Nacional de Bela Artes, é que o Porto crie um roteiro sobre os órgãos de tubos da cidade, a par de uma programação com concertos, envolvendo mecenas e o comércio local.
Lusa/DNArtes, 18 março 2017, consulta a 22 de março