Salvaterra de Magos e os seus órgãos de tubos
Órgãos de tubos do concelho de Salvaterra de Magos [2]
Por Salvaterra de Magos passaram figuras importantes da História e aqui foram tomadas muitas decisões políticas, pois a monarquia apreciava o clima e a caça da região. Entre 1753 e 1792 foram executadas 64 produções musicais no Teatro da Ópera. A existência de órgãos na Igreja Matriz e na Capela do antigo Paço real insere-se neste contexto em que a música tinha lugar de destaque.
Igreja Matriz de Salvaterra de Magos
Igreja Matriz de Salvaterra de MagosDedicada a S. Paulo Apóstolo, a Igreja Paroquial de São Paulo Apóstolo de Salvaterra de Magos foi construída por volta de 1296. É constituída por uma Capela-mor em talha dourada e as impressionantes pinturas ao longo do teto. Tem também um painel de azulejos em azul e branco e uma tela do século XVI. A igreja quase ficou destruída pelos terramotos, nomeadamente os de 1755 e 1909. Numa dessas catástrofes, a torre da igreja ficou totalmente danificada, como tal as horas começaram a ser dadas por um soldado que tocava o sino no edifício da Câmara Municipal.
No coro alto possui um órgão de tubos histórico de tipo ibérico, da autoria do organeiro António Xavier Machado e Cerveira, opus 97, em 1825, restaurado pela Oficina e Escola de Organaria em 2000, opus 31. Trata-se de um positivo de armário [ I ; (6+6) ] com 4,13 metros de altura, 1,74 m de largura e 1,28 m de profundidade. O teclado manual único tem 53 notas, de Dó 1 a Mi5. Tem 12 meios-registos, sendo o Dó# a divisória. Dos 594 tubos, 19 são de madeira e os outros de metal. Tem ainda pedais de ferro, em forma de estribo, para ligar e desligar os cheios e as trombetas.
Órgão no coro alto
Montra do órgão
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Para a mão esquerda os registos são:
- Fagote
- Vintedozena composta
- Dozena
- Quinzena
- Oitava Real
- Flautado de 12 tapado
Para a mão direita:
- Clarim
- Corneta de 4 filas
- Cheio
- Flautim (cónico)
- Flauta de 12 (cónica)
- Flautado aberto
Veja AQUI vídeo da inauguração.
O órgão do grande Machado e Cerveira completava 175 anos em 2000, que era também ano jubilar. O P.e António José Ferreira, que fazia parte da comunidade vicentina, achou que era uma ótima ocasião para se restaurar o órgão, trabalho que ficou a cargo de Pedro Guimarães. O Pe. Agostinho Teixeira de Sousa, que faleceria precocemente, apoiou a ideia desde o primeiro momento. Com as qualidades que lhe eram reconhecidas motivou a comunidade para obter a parte do dinheiro que era necessário. António José Ferreira fotografou na altura todos os órgãos da Diocese de Santarém e foi feita uma exposição na antiga Capela do Paço Real no dia do concerto inaugural. Na temporada de Concertos participaram músicos notáveis com Antoine Sibertin-Blanc, Christopher Bochman, Teresita Marques.
Contribuíram financeiramente para o restauro o IPPAR, a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, a Casa de Cadaval, a Fundação Calouste Gulbenkian, Cafés Delta, José Maria Silva, Juntas de Freguesia do Concelho de Salvaterra de Magos, Governo Civil de Santarém, Eagle Star Seguros, Eporipal e Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Com membros do coro litúrgico, foram cantadas as Janeiras para angariação de fundos.
O restauro da caixa do órgão esteve a cargo do Departamento de Restauro do Centro de Estudos de Arte e Arqueologia do Instituto Politécnico de Tomar, procurando respeitar as características originais. No trabalho participaram Taís Lourenço, de Salvaterra de Magos, e Luís Campos, formados no IPT, dirigidos pelo Dr. José Manuel Silva e o Dr. Fernando Antunes.
Capela do antigo Paço Real
A Capela do antigo Paço Real, dedicada a Bom Jesus, foi edificada como uma estrutura de planta retangular constituída por dois quadrados iguais que no meio comportam um pequeno espaço quadrangular mais pequeno, formando assim um templo “(…) de nave única quadrada com cobertura poligonal, dotada de uma Capela-mor muito funda, em forma de igreja de três naves, onde havia um coro situado aquém do altar.” O seu modelo apresenta inequívocas semelhanças com a Capela de Bom Jesus de Valverde, projetada por Miguel de Arruda cerca de dez anos antes. Em meados do século XX a estrutura interna da Capela foi alterada, sendo derrubadas as duas paredes que demarcavam o retângulo edificado no espaço intermédio entre os dois corpos quadrados que correspondem à nave e à Capela-mor, cada um numa extremidade do conjunto. Esta alteração pretenderia criar um espaço de circulação contínua na Capela, mas subverteu a intenção do projeto inicial de evitar a “circulação livre de pessoas e olhares” dentro da Capela através da ruptura com o modelo de unificação espacial renascentista. Em 1657 o programa decorativo da Capela foi renovado, com a execução de um retábulo de talha dourada em Estilo Nacional e de uma erudita campanha de pinturas a fresco, cobrindo as abóbadas com uma sequência de anjos, enrolamentos, grinaldas e motivos concheados rodeando medalhões onde foram pintados os símbolos da Paixão de Cristo.
Fonte: DGPC
Em 2000, o órgão estava em ruinas, restando poucas peças. Creio ter ouvido testemunhos de que em tempos longínquos crianças teriam brincado com tubos para brincar como se fossem sticks de hóquei.