Folclore de Arouca
Grupos etnográficos, tradições e atividades no Concelho
- Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses
- grupo etnográfico de Danças e Cantares de Fermêdo e Mato
- Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arouca
Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses
O Conjunto Etnográfico de Moldes de Danças e Corais Arouquenses – Rancho de Moldes é uma associação de natureza etnográfica sediada no Lugar de Santo Estevão, freguesia de Moldes, Concelho de Arouca, constituída a 26 de setembro de 1986.
grupo etnográfico de Danças e Cantares de Fermedo e Mato
O grupo etnográfico de Danças e Cantares de Fermedo e Mato é uma associação de natureza etnográfica que pesquisa, representa e preserva com a sua simplicidade e genuinidade, os costumes das gentes de antanho da região.
GEDCFM
grupo etnográfico de Danças e Cantares de Fermêdo e Mato
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arouca
O Rancho foi fundado em 1972, com o nome de Rancho Folclórico de Arouca. Em 1973 foi integrado na secção cultural da Casa do Povo de Arouca, adotando a designação atual.
Tem como missão preservar as suas memórias e o legado dos seus antepassados.
No traje encontra-se a variada forma de estar da referida comunidade.
O cancioneiro de Arouca, de Virgílio Pereira, tem na sua base as recolhas de cantares das melodiosas vozes de Arouca, transportando-nos para a ruralidade do povo arouquense.
O grupo tem marcado a sua presença em diversos festivais nacionais e internacionais de folclore. Organiza anualmente o Arraial de Folclore e o Festival de Folclore da Vila de Arouca.
É membro efetivo da Federação do Folclore Português e filiado no INATEL.
Rancho Folclórico da Casa do Povo de Arouca, créditos Abel Cunha
BIBLIOGRAFIA
cancioneiro de Arouca
cancioneiro de Arouca, de Vergílio Pereira, Edição Fac-Similada. Notas monográficas de Dr. Manuel Rodrigues Simões Júnior. Porto, Edição da Junta de Província do Douro-Litoral. 1960- In. 4º de 904 páginas, brochado. Foi feita uma edição fac-similada, segundo o original, pela Associação para a Defesa da Cultura Arouquense. Ilustrado, com pautas e letras de música.
Vergílio Pereira
Quem foi Virgílio Pereira, o etnomusicólogo que organizou o cancioneiro de Arouca e fez a sua recolha?…
Uma das riquezas patrimoniais de Arouca é a sua música tradicional, onde se destacam os seus corais femininos tradicionais, que são milenares, muitíssimo anteriores à música da Igreja e que, como bem sublinhava o etnógrafo arouquense Albano Ferreira, não derivam da música da Igreja nem do Convento de Arouca.
Na realidade, estes belos corais femininos polifónicos, a duas vozes ou a três vozes, paralelas ou sobrepostas, típicos do ‘Espaço Cultural do Mundo Mediterrânico’, têm milénios e são endógenos, autóctones, possuindo uma tonalidade muitíssimo peculiar que não se enquadra na canonicidade das escalas musicais comuns do Ocidente.
Arouca tem um acervo significativo de cerca de 531 espécies musicais desses corais tradicionais antiquíssimos, que foram recolhidos e estudados pelo etnomusicólogo Virgílio Pereira e publicados no célebre cancioneiro de Arouca, editado, em 1959, pela Junta de Província do Douro Litoral – Comissão Provincial de Etnografia e História, sediada no Porto, com Notas Monográficas Introdutórias do Dr. Simões Júnior. A Associação de Defesa do Património Arouquense reeditou o cancioneiro de Arouca no ano de 1990.
Este texto de Alda Neto (apesar de ter uma lacuna grave, visto que, por paradoxo, não menciona o cancioneiro de Arouca, que é, para Virgílio Pereira, o mais rico e significativo de todo o país) descreve, em termos gerais, o perfil biográfico deste etnomusicólogo, natural do concelho de Paredes, que passou uma parte considerável da sua vida no território arouquense, a recolher, a estudar e a transpor, para a pauta musical, os belíssimos corais femininos polifónicos milenares de Arouca:
“Virgílio Pereira, etnomusicólogo, nasceu na freguesia de Vilela a 7 de Outubro de 1900. De seu nome completo Virgílio José Gaspar Pereira, era filho do prof. António Gaspar Pereira e de Francisca Romana Coelho Pereira. O seu pai tinha já uma tradição cultural na freguesia, tendo sido o fundador da mais antiga Associação de Paredes, e uma das mais prestigiadas – a Banda Musical de Vilela. Desde criança, Virgílio Pereira foi atraído pela música, até porque tinha um ambiente familiar favorável nesse campo. Frequentou o Conservatório do Porto e a extinta Academia Mozart.
O etnomusicólogo Virgílio Pereira (1900-1965)
Com apenas 19 anos, já era professor do ensino primário e Director da Escola Anexa à Normal do Porto. É nessa altura que funda o Orfeão Infantil do Porto. Em 1924, regressou a Paredes, a sua terra-natal, desta vez para Lordelo, onde leccionou durante dez anos, fundou e dirigiu o “Orfeão Castro Araújo”, formado exclusivamente por trabalhadores rurais. Um Orfeão amador que, no entanto, obteve a Medalha de Ouro do 1º Concurso Orfeónico de Portugal, realizado no Porto em 1932. Neste mesmo ano, e até 1934, Virgílio Pereira continuou a “semear” a arte e a cultura pelos seus conterrâneos. Fundou um novo agrupamento musical, o “Orfeão Oliveira Martins”, formado por alunos da escola técnica do mesmo nome. No ano seguinte, formou e dirigiu o Coro Infantil do Porto, constituído por 1600 jovens das escolas oficiais da cidade.
Entre 1941 e 1953, dirigiu o grupo coral “Pequenas cantoras de Portugal”, mais conhecido como “Pequenas Cantoras do Postigo do Sol”. Um grupo que realizou perto de 250 concertos, em Portugal e no estrangeiro, ao longo dos seus doze anos de existência e que atingiu a fama, pela qualidade demonstrada. Conquistou, mesmo, os favores dos mais exigentes críticos da especialidade.
O Maestro italiano Ino Savini, quando esteve em Portugal, referiu: “Conheci grande número de coros polifónicos, mas nenhum assim de tanta coesão, de tanta homogeneidade, de tal volume de som, que brota surpreendentemente apenas de quinze meninas”. Fernando Lopes Graça considerou-o mesmo um artista, “um pedagogo de notável mérito, um exemplo de constância e dedicação”.
A partir de 1951, e até 1958, Virgílio Pereira foi Director do Orfeão do Porto. Neste período, o grupo do Orfeão desempenhou a parte coral da Nona Sinfonia de Beethoven. Uma vida preenchida e integralmente dedicada à música. O nosso etnomusicólogo não parava e respondia com o máximo empenho a todas as solicitações. Nos últimos anos da sua carreira, teve a seu cargo o Conservatório, o Orfeão e o Coro Etnográfico da Covilhã, onde se deslocava semanalmente.
Mas Virgílio Pereira não se limitou a transmitir os seus conhecimentos práticos aos mais novos. Fez também um importante trabalho de recolha e de investigação do cancioneiro no interior do país. Publicou, no “Douro Litoral”, duas Colectâneas: os “Corais Geresianos” e os “Corais Mirandeses”. Quando morreu, tinha então 64 anos de idade, preparava a publicação de todo o conjunto de materiais que recolhera – encarregado pela Fundação Gulbenkian – na Beira Baixa, na Guarda e nos concelhos de Felgueiras e de Baião.
Colaborara, pouco tempo antes, na constituição do volume “Cancioneiro de Santo Tirso”. Além de tudo isto, foi colaborador de “O Tripeiro”, do “Jornal de Notícias” e de algumas revistas periódicas. Foi membro correspondente da Federação Musical Francesa, sócio efectivo da Sociedade Portuguesa de Escritores, da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e da Sociedade de Autores e compositores Teatrais Portugueses.
A 1 de Junho de 1957, como reconhecimento pelo extraordinário trabalho que desenvolveu ao longo da sua carreira e pelo muito que deu à música portuguesa, foi agraciado com o Grau de Cavaleiro da Ordem da Instrução Pública. Um homem brilhante, um autêntico génio nascido e criado em Paredes. “
Escrito por Miguel Quaresma Brandão, Defesa de Arouca, 3 de fevereiro de 2019
Albano Ferreira, etnógrafo arouquense
Para além da sua colaboração assídua no jornal «Defesa de Arouca», o insigne etnógrafo arouquense Albano Ferreira é autor de vários outros textos etnográficos e etnológicos sobre Arouca publicados em revistas da especialidade.
Um deles, bastante relevante, é o texto «Onde mora o folclore?», que surge de um pequeno ensaio que Albano Ferreira apresentou, na década de 60 do século XX (era comum), ao Colóquio Portuense de Arqueologia, onde defendeu vários factos óbvios, mas inovadores para a maioria dos estudos daquela altura sobre o assunto:
- que as danças tradicionais de Arouca têm uma origem milenar, muito remota, na dita ‘civilização castreja’ do noroeste da Península Ibérica;
- que as danças tradicionais de Arouca se enquadram, se inserem e pertencem ao território identitário e endógeno do Douro Litoral, protagonizado pela cidade do Porto:
- que os corais polifónicos femininos de Arouca são endógenos e autóctones e, portanto, têm, de igual modo, como é óbvio, origem nessa civilização muita remota dos castros e das citânias e não derivam, de modo algum, da música da Igreja Católica ou dos conventos, visto que têm uma estrutura sonora e musical muitíssimo distinta da música da Igreja Católica e são, portanto, muitíssimo mais antigos, em milénios.
Miguel Quaresma Brandão
Fontes do Musorbis Folclore:
No Musorbis foram revistos todos os historiais de grupos etnográficos. Para facilitar a leitura, foram retirados pormenores redundantes e subjetivos, e foram corrigidos erros de português.