Órgãos de tubos de Baião (3)
Instrumentos existentes no Concelho
Segundo Nuno Mimoso, organista, musicólogo e consultor, no Concelho existem órgãos de tubos em Ancede, Ovil e Santa Maria do Zêzere.
Igreja de Santa Marinha do Zêzere
Restauro do Órgão Histórico da Igreja Matriz de Santa Marinha do Zêzere
por Nuno Mimoso
No dia 30 de Junho de 2021 arrancou a intervenção de Conservação e Restauro do Órgão Histórico da Igreja Matriz de Santa Marinha do Zêzere, no concelho de Baião. Os trabalhos começaram com a desmontagem da canaria do órgão, formada por cerca de 900 tubos sonoros, dos quais 51 são trombetas armadas na fachada. Este instrumento antigo, datado de 1793, é obra do mestre Joze Antonio de Souza, organeiro ativo no Norte de Portugal no 3º quartel do séc. XVIII, com oficina sediada em Braga.
A obra de restauro foi adjudicada à Oficina e Escola de Organaria, Lda. gerida pelo mestre organeiro Pedro Guimarães von Rohden. Esta empresa fundada em 1992 é especializada em conservação e restauro de órgãos históricos, tendo realizado 40 intervenções de restauro em órgãos portugueses, com elevados índices de qualidade técnica, com base no estudo organológico de cada espécime, compatibilidade de materiais e reprodução das técnicas de manufatura de origem.
O órgão histórico de Santa Marinha do Zêzere possui um teclado de 51 teclas capeadas a bucho e ébano, e 20 meios-registos sonoros, ou seja 20 conjuntos de tubos com sonoridades diferentes: violão, flautados, flautas, corneta, clarão, clarim, e outros. A complexa máquina do instrumento está encastrada numa bela caixa em talha dourada sobre fundo branco. O instrumento é de boa manufatura, estando muito próximo do seu estado original: enorme valia para os resultados historicistas do restauro.
Esta empreitada decorre sob a direção e fiscalização do músico sacro e organista Dr. Nuno Mimoso, musicólogo consultor do Município, responsável pelo estudo e reabilitação do património organístico do concelho. O restauro do órgão histórico é apenas uma parte do programa mais vasto do Município de Baião, que levará a cabo a recuperação integral do património integrado recheio da Igreja de Santa Marinha do Zêzere – imóvel classificado Monumento de Interesse Público em 2015.
Nuno Mimoso destaca a dimensão abastada daquele órgão de tubos relativamente à volumetria do templo. A bacia larga e funda prova que eram associados ao órgão pequenos ensembles instrumentais e vocais. Este dado atesta a pujança da Música Sacra em Portugal até ao Final do Antigo Regime, com manifestações nesta freguesia sobranceira ao Douro. Segundo o musicólogo, o próximo passo será desvendar o contexto da encomenda deste rico recurso musical e litúrgico na história cultural e religiosa da freguesia.
Este instrumento musical histórico configura hoje património de elevado valor cultural, pela autenticidade e singularidade da peça, cuja reabilitação tem em vista a dinamização cultural e litúrgica do templo. O órgão restaurado permitirá tanto dignificar as solenidades religiosas da paróquia, como qualificar a oferta cultural no campo da música sacra e erudita naquela freguesia, atraindo novos públicos à freguesia, e incentivando jovens à aprendizagem do órgão.
Os três foles do instrumento serão restaurados, repondo-se o sistema original de insuflação com alavancas puxadas por cordas, demonstrando o trabalho braçal dos trabalhadores chamados foleiros. A requalificação da antiga casa dos foles permitirá a visualização do sistema e a visitação de público. A intervenção tem duração prevista de 12 meses, com conclusão em Junho de 2023. A freguesia de Santa Marinha do Zêzere anseia escutar as vozes do seu órgão histórico, que já ninguém se recorda de ter conhecido, dado que o admirável instrumento está inoperacional desde meados do século passado.
Nuno Mimoso
tribuna e órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Órgão de tubos histórico José António de Sousa da da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, perspetiva lateral, créditos Renato Valdoleiros 2022
Órgão de tubos histórico Joze Antonio de Souza da da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Manúbrios do lado direito do órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Manúbrios do lado esquerdo do órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Motivos florais, órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Tubaria, interior, órgão de tubos histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, Baião, créditos Renato Valdoleiros 2022
Registos Fotográficos: Renato Valdoleiros
Notícia da aprovação da candidatura
A 04 de março de 2021, A Verdade noticiou a aprovação da “candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Baião aos fundos comunitários para a conservação e restauro da Igreja Paroquial de Santa Marinha do Zêzere. No âmbito do programa Património Cultural, os fundos europeus vão financiar 85% do valor da empreitada, que será lançada a concurso público pela Câmara Municipal de Baião. Estima-se um valor base de obra de 372 mil euros, sendo a autarquia baionense responsável por suportar 15% deste valor.
Igreja de Santa Marinha do Zêzere, ft. Câmara Municipal de Baião
Em nota enviada à imprensa, o município de Baião relembrou que a Igreja de Santa Marinha do Zêzere é uma das classificadas no concelho de Baião como Monumento de Interesse Público. Existe ainda um protocolo formalizado com a Diocese do Porto que permite que as igrejas recebam visitas.
“Estas obras visam, portanto, não apenas melhorar as condições de utilização da igreja por parte da comunidade, como também valorizar o património cultural e artístico ali existente e inserem-se na estratégia de atração de visitas ao nosso território, condição importante para a atribuição de apoios para a obra”, refere a autarquia baionense.
O presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, mostrou-se “satisfeito” por terem sido assegurados apoios europeus e afirma: “Na câmara municipal fizemos um trabalho muito atento e dedicado para que esta candidatura pudesse ter sucesso. Com estes apoios iremos garantir a valorização de um património local de grande importância e rentabilizar mais os recursos ao nosso dispor, para servir os baionenses”, disse.
Já o presidente da Junta de Santa Marinha do Zêzere, Manuel Pereira, considera que “valeu a pena o esforço e a dedicação” aplicados no processo, “porque vai ser mais um investimento importante, nomeadamente no interior da igreja, que é muito rico em termos decorativos e, também, na recuperação do órgão de tubos. É uma obra para os nossos habitantes, mas também esperamos que possa atrair mais pessoas à nossa freguesia”, afirmou esperançoso. Por sua vez, o pároco de Santa Marinha do Zêzere, Filipe Azevedo, refere que esta vai ser “uma mais-valia muito grande, não apenas para o culto, mas também para valorizar o património da nossa terra.
Esta igreja é muito bonita, nomeadamente os altares, os tetos e o órgão de tubos. Fico contente que possamos cuidar deste património. Acho que estas obras vão beneficiar a comunidade, também no plano cultural, turístico e até educativo”, defendeu.
Os trabalhos previstos para esta atividade passam pela construção civil e eletricidade, entre eles revisão da cobertura, rebocos interiores, substituição de portas e pinturas. O Órgão de Tubos será também alvo de conservação e restauro, onde serão desenvolvidos trabalhos de restauro da máquina e dos instrumentos, bem como a substituição de madeiras da caixa. Serão feitas correções na rede elétrica e beneficiada a iluminação do altar e da nave e coro. Por último, serão ainda restaurados os retábulos e vários elementos decorativos do interior da igreja.
Fonte: A Verdade, texto redigido por Vanessa Morais, aluna estagiária da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro