Património Cultural Imaterial de Serpa
Cante alentejano
A 27 de novembro de 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura declarou o cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade, exatamente três anos depois do fado.
A candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade deu formalmente entrada a 28 de março de 2013 no comité internacional da UNESCO.
O presidente da Câmara Municipal de Serpa Tomé Pires disse ao Observador que a chancela da UNESCO ao cante alentejano podia abrir muitas portas. Ao objetivo de salvaguardar e transmitir o cante, é preciso também “começar a pensar em tornar este ativo cultural numa ativo económico, para ajudar a sustentabilidade do cante e o desenvolvimento da nossa região”, disse.
Em comunicado, o secretário de Estado da Cultura Barreto Xavier congratulou a decisão “de grande relevância e significado para Portugal e que em muito honra os portugueses”.
“Trata-se do reconhecimento da importância de uma prática que é parte integrante da cultura portuguesa e que, apesar de nascida no Alentejo, é valorizada em todo o território nacional e, cada vez mais, a nível internacional. A importância do cante alentejano vai além da sua vertente cultural, integrando uma componente social muito forte que se manifestou ao longo de séculos de história e através da sua capacidade de transmissão geracional, que une cidadãos das mais diversas faixas etárias, tornando-o um veículo dinamizador de muitas comunidade”.
O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em comunicado enviado à agência Lusa, partilhava o “sentimento de orgulho pelo reconhecimento do cante alentejano” a património cultural. E lembra que a distinção é o “esperado e merecido tributo” a uma das referências culturais que “melhor reflete a identidade e a história de uma comunidade e de uma região”, assim como uma “forma de expressão musical única” que se pretende continuar a “valorizar e divulgar”, agora com o estatuto reforçado de “legado mundial”.
Em nota publicada no portal oficial da Presidência da República, Cavaco Silva salientou que a cultura portuguesa é “colocada em destaque no panorama internacional”, adiantando que se homenageia uma “arte que nasceu de uma tradição vernacular e rural, um canto do povo, que é tão belo como as planícies do Alentejo onde nasceu”.
Para Cavaco Silva, é “essencial preservar esta poética e riqueza musical e assegurarmos a sua transmissão às próximas gerações”, sublinhando que o cante é” a marca e um sinal de um povo”, assim como “a expressão mais genuína e autêntica da sua identidade”.
Cante Alentejano, créditos Unesco Portugal
Duas candidaturas, duas aprovações
O musicólogo Rui Vieira Nery foi o presidente da Comissão Científica da candidatura do fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade e também liderou a candidatura do cante alentejano. Mas, em 2012, demitiu-se do cargo, alegando que a candidatura padecia de muitos problemas que já tinham levado ao chumbo de outros projetos.
“A candidatura começou mal, com um processo de gabinete, e houve uma primeira tentativa de apresentação que não foi concretizada porque, a meu ver, teria levado ao falhanço”, explicou ao Observador. “Depois houve um trabalho excelente no refazer da candidatura, no aspeto da ligação com a comunidade, condição fundamental desta convenção. Foi um trabalho muito bem feito pela equipa de Paulo Lima e de Salwa Castelo-Branco, que foi quem o substituiu”.
Fado e cante alentejano. As duas únicas candidaturas, as duas consideradas exemplares e as duas aprovadas pela UNESCO. Para Rui Vieira Nery “isto é um convite à navegação, no sentido de que vale a pena apresentar estas candidaturas, mas com tempo, com calma e sem calendários políticos. Neste momento, Portugal tem uma imagem muito boa no comité”, disse, mas alerta: “Isto não é um Guinness, ninguém vai avaliar a qualidade da forma artística, mas sim o carácter representativo e identitário dessa forma, como símbolo de uma comunidade.
A visibilidade nacional e internacional são o primeiro ganho, mas o musicólogo destaca a “dimensão turística” e o plano de salvaguarda que acompanha a candidatura. Entre as ações de salvaguarda previstas conta-se, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a recolha e análise documental e museográfica, a caracterização do cante alentejano, dos grupos de cante e dos cantadores, bem como a inclusão do ensino desta prática nas escolas locais a fim de promover a sua transmissão intergeracional.
“Se esse plano for cumprido penso que haverá condições para um desenvolvimento ainda mais sustentável”, disse Rui Vieira Nery. E acrescenta que “os benefícios não são imediatos, são mais um estímulo. Isto aumenta o amor próprio das pessoas que fazem cante alentejano e a própria imagem da cultura alentejana”.
A candidatura final foi apresentada em 2013 e é fruto do trabalho do Município de Serpa e dos Municípios do Baixo Alentejo, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, da Direção Regional de Cultura do Alentejo, da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, da Comissão Nacional da UNESCO e dos grupos corais de cantadores e respetivas associações.
Na comitiva que seguiu para Paris estavam duas dezenas de homens do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa.
Fonte: Sara Otto Coelho/Observador, 27 novembro de 2014
Em 2018, para assinalar a data, a CIMBAL-Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo e o Diário do Alentejo associam-se à iniciativa do jornal “Público” para lançar quatro publicações sobre Cante Alentejano (livro e CD), em 2018.
A Câmara de Serpa assinalou a data com a entrega de Medalhas à Confraria do Cante, Associação MODA, Direcção Regional de Cultura do Alentejo, Entidade Regional de Turismo e Casa do Alentejo. A iniciativa marcou o encerramento do Cant Fest.
Em Beja, o Grupo Juvenil Coral e Etnográfico Rouxinóis do Alentejo apresentou o espetáculo “Ciclo do Vinho de talha” numa organização da Câmara Municipal de Beja, do Centro UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial – Beja e da Associação Rouxinóis do Alentejo com o apoio de várias entidades.
A iniciativa teve lugar no Pax Julia.
BIBLIOGRAFIA DO CANTE ALENTEJANO
- ‘O Alentejo e outros mundos’ no canto alentejano – António Cartageno – Arquivo de Beja, Volumes VII/VIII – Série III – Agosto 1998
- “A Tradição” de Serpa, Revista de Etnografia Ilustrada – Volumes I e IV – Beja – 1980
- A Canção Popular Portuguesa – Fernando Lopes Graça – Edição Europa-América – Lisboa – 1953
- A Etnografia e Folclore no Baixo Alentejo – Manuel Joaquim Delgado, Edição da Assembleia Distrital de Beja – Beja – 1985
- A Linguagem Popular do Baixo Alentejo e o Dialecto Barranquenho – Manuel Joaquim Delgado – 2ª edição – Beja – 1983
- A Música Portuguesa e os Seus Problemas – Obras Literárias de Fernando Lopes Graça – Edições Cosmos – Lisboa – 1963
- A Música Portuguesa e os Seus Problemas – Volume III (Apontamentos sobre a canção alentejana – Págs. 175/183 – 1946), Fernando Lopes Graça – Edição Cosmos – Lisboa, 1973
- A Transformação do Pensamento Poético Tradicional no Baixo Alentejo: Elementos para uma Etnossociologia Literária – João R. Nazaré – Arquivo de Beja – Volumes II/III – Série III – Págs. 101 a 110 – Dezembro 1996
- As Modas Que o Povo Canta – Luís Franganito – 2002
- Através dos Campos , José da Silva Picão, 2ª edição, 1947
- cancioneiro Alentejano – Padre António Marvão – Beringel – Tipografia da Editorial Franciscana – 1955
- cancioneiro Alentejano – Vitor Santos – Edição Especial do Grémio Alentejano – 1938
- cancioneiro de Serpa -Maria Rita Ortigão Pinto Cortez – Edição da Câmara Municipal de Serpa – 1994
- cancioneiro Popular Português – J. L. Vasconcelos – M. A. Zaluar Nunes (coord.) – Universidade de Coimbra – Coimbra – 1975
- cancioneiro Popular Português – Michel Giacometti – Círculo de Leitores – Lisboa– 1981
- Cantares do Povo Português – Estudo crítico, recolha e comentários de Rodney Gallop – Edição do Instituto para a Alta Cultura – Lisboa – 1937
- Cante e Aspectos Dialectais do Português – Maria José Albarran Carvalho – Arquivo de Beja – Volume XII – Série III – Págs. 135 a 148 – Dezembro 1999
- Cante, Tradição e Ensino – M. J. Carvalho e J. S. Matos – Revista Arquivo de Beja – s III – Volume X – Abril 1999
- Cante, Tradição Perspectiva Multidisciplinar – Maria José Albarran e João Sant’Ana de Matos – Arquivo de Beja – Volume X – Série III – Págs. 47 a 60 – Abril 1999
- Cânticos Religiosos Alentejanos Opúsculos I e II – Padre António Cartageno – Beja – 1980
- Cantigas Populares Alentejanas – J. A Pombinho Júnior – Porto – 1936
- Cantos Populares de Portel – Pombinho Júnior – Minerva Comercial – Évora – 1949
- Corais Alentejanos – José Pereira – Edições Margem – Lisboa – 1997
- Da Beleza, Encanto e Significado Cultural do Canto Popular do Baixo Alentejo – Henriques Pinheiro – Arquivo de Beja – Volumes II/III – Série III – Págs. 153 a 157 – Dezembro 1996
- Estudos sobre o Cante Alentejano – Padre António Marvão – INATEL – 1997
- Etnografia Portuguesa – Prof. Doutor José Leite de Vasconcelos – Imprensa Nacional – Casa da Moeda – Lisboa – 1982
- Etnografia Portuguesa . Lv III – J. Vasconcelos – Volume III – Imprensa Nacional Casa da Moeda – Lisboa – 1982
- Instrumentos Musicais Populares Portugueses – Ernesto Veiga de Oliveira – Apêndices II e III – Edição Fundação Calouste Gulbenkian – 1964-2000
- Michel Giacometti e o Cante Alentejano (Comunicações de um Debate realizado, em 27 de Setembro de 1997, no Centro Cultural Manuel da Fonseca, em Ferreira do Alentejo) – Edição da Câmara Municipal de Ferreira do Alentejo e Câmara Municipal de Cascais – 1997
- Momentos Vocais do Baixo Alentejo – cancioneiro da Tradição Oral – João Ranita da Nazaré – Edição da Imprensa Nacional – Casa da Moeda – 1986
- Música Popular Portuguesa (capítulos Alto Alentejo e Baixo Alentejo) – Armando Leça – Editorial Domingos Barreira – Porto – 1947 (?)
- Música Tradicional Portuguesa – Cantares do Baixo Alentejo – João Ranita Nazaré – Instituto da Cultura Portuguesa – Lisboa – 1979
- O Alentejo e os Outros Mundos no Canto Alentejano – António Cartageno – Arquivo de Beja – Volumes VII/VIII – Série III – Págs. 371 a 386 – Agosto 1998
- O Alentejo, o Cante e os seus Poetas – Luís Filipe Maçarico – Arquivo de Beja – Volume XIII – Série III – Págs. 13 a 36 – 2000
- O Cante e a Pobreza: uma abordagem etno-histórica – José A Orta – Arquivo de Beja – Volume XI – Série III – Págs. 153 a 170 – Agosto 1999
- O Cante e a Pobreza: uma abordagem linguística – Maria José Albarran Carvalho – Arquivo de Beja – Volume XI – Série III – Págs. 133 a 140 – Agosto 1999
- O Cante e a Pobreza: uma abordagem literária – João Sant’Ana Matos – Arquivo de Beja – Volume XI – Série III – Págs. 143 a 151 – Agosto 1999
- O Cante e a Poesia – João Sant’Ana de Matos – Arquivo de Beja – Volume XI – Série III – Págs. 113 a 129 – Agosto 1999
- O Que o Povo Canta em Portugal – J. Cortesão – Livros Horizonte – 1980
- Os Cantares Polifónicos do Baixo Minho – Ana Maria Azevedo Edição Estratégias Criativas – 1997
- Recorrências-Léxico e Motivos Sãojoaninos no Cante – Maria José Albarran Carvalho – Arquivo de Beja – Volume XI – Série III – Págs. 87 a 110 – Agosto 1999
- Revista “A Tradição” , Volumes I e II, de Janeiro de 1899 a Junho de 1904 – Edição da Câmara Municipal de Serpa – 1982
- Revitalizar a cultura regional revitalizando o cante – José A. Orta – Arquivo de Beja – Volumes VII/VIII – Série III – Agosto 1998
- Ricos e Pobres no Alentejo – J. Cutileiro – Editora Sá da Costa – Lisboa – 1977
- Some Aspects of the “Cante” Tradition of Cuba : A Town in Southern Alentejo , Portugal . In Livro de Homenagem a Macário Santiago Kastner – S. Castelo Branco – Fundação Calouste Gulbenkian – Lisboa – Págs. 547 a 561 – 1992
- Subsídios para o cancioneiro Popular do Baixo Alentejo (I e II Volumes) – Manuel Joaquim Delgado – Edição do Instituto Nacional de Investigação Científica – 2ª edição – 1980
- Um olhar sobre o Cante Alentejano – Introdução ao Estudo da Vida e Obra de António Alfaiate Marvão – Luís Miguel S. Clemente – Arquivo de Beja – Volume XIII – Série III – Págs. 37 a 48 – 2000