Órgãos de tubos de Baião (3)
Instrumentos existentes no Concelho
Segundo Nuno Mimoso, organista, musicólogo e consultor, no Concelho existem órgãos de tubos em Ancede, Ovil e Santa Maria do Zêzere.
Em Baião, território que começou a ser povoado 5000/4500 anos antes de Cristo, merecem visita a Anta da Aboboreira, a igreja de Santa Maria do Zêzere, o Mosteiro de Ancede, a Casa de Tormes, núcleo museológico referente à vida do grande Eça de Queirós. O concelho ainda merece ser visitado pela sua gastronomia e paisagens deslumbrantes.
Igreja de Santa Marinha do Zêzere
Com a igreja lotada na presença de notáveis personalidades políticas, culturais e religiosas, foi inaugurado a 13 de julho de 2024 o órgão histórico construído em 1793 pelo mestre organeiro bracarense Joze Antonio de Souza e restaurado pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden. Tal como a igreja, o restauro da caixa do órgão ficou a cargo da N_Restauros, Conservação e Restauro, Lda.
Benzido pelo bispo auxiliar do Porto D. Vitorino Soares, o órgão fez-se ouvir de novo com as suas belas sonoridades e registos pelas mãos do organista e musicólogo Nuno Mimoso, na companhia de caixa de rufo e carrilhão (Bernardo Cruz), trombone (Diogo Carvalho, músico zezerense), trompete (Bruno Rocha) e clarinete (Sara Costa), músicos profissionais com ligações ao concelho.
O concerto foi pontuado por comentários sobre o órgão, sonoridades e registos, peças, compositores e história, e notas sobre orações como a Ave Maria. Incluiu compositores portugueses para órgão e grandes nomes da música como Johan Sebastian Bach. Terminou com um vibrante arranjo de Nuno Mimoso do Hino de Santa Marinha do Zêzere para órgão e trio de sopros.
Órgão histórico da igreja de Santa Marinha do Zêzere, restaurado em 2024 pela Oficina e Escola de Organaria de Pedro Guimarães e Beate von Rohden (Esmoriz)
O órgão possui 20 meios-registos e 792 tubos ou «canudos» – designação histórica que ainda se ouve entre os zezerenses. 51 tubos são trombetas «armadas em artilharia» (Baixãozilho e Clarim), e 25 tubos são de madeira (Flautado Violão).
Restauro do Órgão Histórico da Igreja Matriz de Santa Marinha do Zêzere
por Nuno Mimoso
No dia 30 de Junho de 2021 arrancou a intervenção de Conservação e Restauro do Órgão Histórico da Igreja Matriz de Santa Marinha do Zêzere, no concelho de Baião. Os trabalhos começaram com a desmontagem da canaria do órgão, formada por cerca de 900 tubos sonoros, dos quais 51 são trombetas armadas na fachada. Este instrumento antigo, datado de 1793, é obra do mestre Joze Antonio de Souza, organeiro ativo no Norte de Portugal no 3º quartel do séc. XVIII, com oficina sediada em Braga.
A obra de restauro foi adjudicada à Oficina e Escola de Organaria, Lda. gerida pelo mestre organeiro Pedro Guimarães von Rohden. Esta empresa fundada em 1992 é especializada em conservação e restauro de órgãos históricos, tendo realizado 40 intervenções de restauro em órgãos portugueses, com elevados índices de qualidade técnica, com base no estudo organológico de cada espécime, compatibilidade de materiais e reprodução das técnicas de manufatura de origem.
O órgão histórico de Santa Marinha do Zêzere possui um teclado de 51 teclas capeadas a bucho e ébano, e 20 meios-registos sonoros, ou seja 20 conjuntos de tubos com sonoridades diferentes: violão, flautados, flautas, corneta, clarão, clarim, e outros. A complexa máquina do instrumento está encastrada numa bela caixa em talha dourada sobre fundo branco. O instrumento é de boa manufatura, estando muito próximo do seu estado original: enorme valia para os resultados historicistas do restauro.
Esta empreitada decorre sob a direção e fiscalização do músico sacro e organista Dr. Nuno Mimoso, musicólogo consultor do Município, responsável pelo estudo e reabilitação do património organístico do concelho. O restauro do órgão histórico é apenas uma parte do programa mais vasto do Município de Baião, que levará a cabo a recuperação integral do património integrado recheio da Igreja de Santa Marinha do Zêzere – imóvel classificado Monumento de Interesse Público em 2015.
Nuno Mimoso destaca a dimensão abastada daquele órgão de tubos relativamente à volumetria do templo. A bacia larga e funda prova que eram associados ao órgão pequenos ensembles instrumentais e vocais. Este dado atesta a pujança da Música Sacra em Portugal até ao Final do Antigo Regime, com manifestações nesta freguesia sobranceira ao Douro. Segundo o musicólogo, o próximo passo será desvendar o contexto da encomenda deste rico recurso musical e litúrgico na história cultural e religiosa da freguesia.
Este instrumento musical histórico configura hoje património de elevado valor cultural, pela autenticidade e singularidade da peça, cuja reabilitação tem em vista a dinamização cultural e litúrgica do templo. O órgão restaurado permitirá tanto dignificar as solenidades religiosas da paróquia, como qualificar a oferta cultural no campo da música sacra e erudita naquela freguesia, atraindo novos públicos à freguesia, e incentivando jovens à aprendizagem do órgão.
Os três foles do instrumento serão restaurados, repondo-se o sistema original de insuflação com alavancas puxadas por cordas, demonstrando o trabalho braçal dos trabalhadores chamados foleiros. A requalificação da antiga casa dos foles permitirá a visualização do sistema e a visitação de público. A intervenção tem duração prevista de 12 meses, com conclusão em Junho de 2023. A freguesia de Santa Marinha do Zêzere anseia escutar as vozes do seu órgão histórico, que já ninguém se recorda de ter conhecido, dado que o admirável instrumento está inoperacional desde meados do século passado.
Nuno Mimoso
Notícia da aprovação da candidatura
A 04 de março de 2021, A Verdade noticiou a aprovação da “candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Baião aos fundos comunitários para a conservação e restauro da Igreja Paroquial de Santa Marinha do Zêzere. No âmbito do programa Património Cultural, os fundos europeus vão financiar 85% do valor da empreitada, que será lançada a concurso público pela Câmara Municipal de Baião. Estima-se um valor base de obra de 372 mil euros, sendo a autarquia baionense responsável por suportar 15% deste valor.
Em nota enviada à imprensa, o município de Baião relembrou que a Igreja de Santa Marinha do Zêzere é uma das classificadas no concelho de Baião como Monumento de Interesse Público. Existe ainda um protocolo formalizado com a Diocese do Porto que permite que as igrejas recebam visitas.
“Estas obras visam, portanto, não apenas melhorar as condições de utilização da igreja por parte da comunidade, como também valorizar o património cultural e artístico ali existente e inserem-se na estratégia de atração de visitas ao nosso território, condição importante para a atribuição de apoios para a obra”, refere a autarquia baionense.
O presidente da Câmara Municipal de Baião, Paulo Pereira, mostrou-se “satisfeito” por terem sido assegurados apoios europeus e afirma: “Na câmara municipal fizemos um trabalho muito atento e dedicado para que esta candidatura pudesse ter sucesso. Com estes apoios iremos garantir a valorização de um património local de grande importância e rentabilizar mais os recursos ao nosso dispor, para servir os baionenses”, disse.
Já o presidente da Junta de Santa Marinha do Zêzere, Manuel Pereira, considera que “valeu a pena o esforço e a dedicação” aplicados no processo, “porque vai ser mais um investimento importante, nomeadamente no interior da igreja, que é muito rico em termos decorativos e, também, na recuperação do órgão de tubos. É uma obra para os nossos habitantes, mas também esperamos que possa atrair mais pessoas à nossa freguesia”, afirmou esperançoso. Por sua vez, o pároco de Santa Marinha do Zêzere, Filipe Azevedo, refere que esta vai ser “uma mais-valia muito grande, não apenas para o culto, mas também para valorizar o património da nossa terra.
Esta igreja é muito bonita, nomeadamente os altares, os tetos e o órgão de tubos. Fico contente que possamos cuidar deste património. Acho que estas obras vão beneficiar a comunidade, também no plano cultural, turístico e até educativo”, defendeu.
Os trabalhos previstos para esta atividade passam pela construção civil e eletricidade, entre eles revisão da cobertura, rebocos interiores, substituição de portas e pinturas. O Órgão de Tubos será também alvo de conservação e restauro, onde serão desenvolvidos trabalhos de restauro da máquina e dos instrumentos, bem como a substituição de madeiras da caixa. Serão feitas correções na rede elétrica e beneficiada a iluminação do altar e da nave e coro. Por último, serão ainda restaurados os retábulos e vários elementos decorativos do interior da igreja.
Fonte: A Verdade, texto redigido por Vanessa Morais, aluna estagiária da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro