Órgãos de tubos do concelho de Peniche [1]
Peniche é uma cidade e concelho indissociável do mar, “um dos maiores portos de pesca tradicional de Portugal e um grande centro atlântico de atividades marítimo-turísticas.” Merecem destaque o centro histórico, o “Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, as Igrejas de São Pedro e da Misericórdia, e o Forte de Peniche, construído no séc. XVI/XVII para a defesa da costa em cruzamento com o Forte da praia da Consolação e o forte na Ilha das Berlengas.” No que se refere a órgãos de tubos, de acordo com as informações de que dispomos, os órgãos de tubos existentes no Concelho são os seguintes:
Igreja de São Pedro
Em Peniche, “os primeiros templos terão sido edificados em meados do século XV, integrando-se neste conjunto possivelmente a Capela do Espírito Santo. Foi precisamente no local desta Capela que em 1589 se fundou a Igreja de São Pedro, cuja construção da estrutura estaria concluída cerca de 1593. O templo paroquial apresenta um corpo central retangular disposto longitudinalmente, que corresponde aos espaços da nave e da Capela-mor, ao qual foram adossados lateralmente a sacristia e uma sala de arrumações. A fachada principal apresenta um modelo de linhas robustas, dividido em três panos, que correspondem à disposição das naves. Os panos laterais possuem dois torreões, o da direita com sineira. Ao centro foi aberto um nártex com duas colunas alteado ao centro. Sobre este foi rasgado um óculo, e o frontispício é terminado em empena. As fachadas laterais são marcadas pela disposição de portas no primeiro registo e cinco janelas retangulares de cada lado. O espaço interior divide-se por três naves cobertas por teto de madeira, marcadas por cinco tramos que assentam sobre colunas toscanas. No interior da torre do lado do Evangelho foi edificada uma Capela batismal, com cúpula, onde foi colocado um painel figurativo de azulejos azuis e brancos, de feitura setecentista, proveniente do Convento de São Bernardino. Na torre oposta foi construída a escada de acesso ao coro-alto. A Capela-mor é coberta por abóbada, sendo esta decorada com pinturas de motivos de gosto Neoclássico que se estendem pelas paredes laterais. Aqui foi também disposto um cadeiral de madeira, da mesma proveniência dos azulejos do batistério. No programa decorativo do templo destacam-se as telas emolduradas por talha, que representam cenas da vida de São Pedro, estando uma assinada com a seguinte inscrição, PINTOR Pº PEIXOTO. E. DE 1711. Possui altares colaterais em talha dourada, com frontão em arco pleno, e altares laterais da mesma tipologia, com frontão triangular. Possui ainda uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, de grande devoção entre a comunidade piscatória da vila.
Cf. Catarina Oliveira, GIF/IPPAR/2006
Igreja Matriz de São Pedro, Peniche
A Igreja Paroquial de São Pedro de Peniche possui um órgão histórico de tipo ibérico (positivo de armário) [ I; 2 (4+5) ] construído por Pietro António Boni em 1771. Foi restaurado em 2015 pela Oficina e Escola de Organaria (Esmoriz), de Pedro Guimarães e Beate von Rohden, opus 65.
Órgão de armário
Órgão de tubos da Igreja Matriz de São Pedro
FOI NOTÍCIA
A 08 de abril de 2015, o sítio do Município de Peniche, agendava para o fim-de-semana, dias 11 e 12, as celebrações de inauguração do órgão de tubos da Igreja de São Pedro, em Peniche. No sábado, dia 11, às 21.30 horas, realizar-se-ia um recital inaugural com os organistas internacionais Eva Brandazza e Marco Brandazza e o Coral Stella Maris de Peniche, por ocasião do seu 38º aniversário. No domingo, às 10-30 horas teria lugar uma eucaristia acompanhada pelo órgão de tubos e pelos grupos corais da Paróquia de Peniche.
O órgão de tubos da igreja de São Pedro, data do século XVIII e estava parado desde a década de 40 do século passado. A recuperação deste órgão secular esteve integrada no âmbito da parceria para a regeneração urbana na candidatura liderada pelo Município de Peniche ao Programa Operacional Centro, para as obras de reabilitação da Igreja de São Pedro, reaberta ao culto no mês de novembro passado.
De acordo com Fernando Engenheiro, em artigo publicado na edição nº 1192 da “Voz do Mar” de 24 de Outubro de 2006, “ desde os fins do século XVIII, mais propriamente na sua última década, a Igreja de São Pedro passou a ser possuidora de um grande órgão, instrumento musical de teclas com sons por tubos construídos em estanho. No interior daquele templo, ao levantarmos a vista para a altura do coro, na época também designado por coreto, os nossos olhos prendem-se, no seu velho órgão que, pela imponência, nos maravilha com a sua caixa, ensamblamento e toda a composição onde encerra os tubos e a sua maquinaria”.
Na altura, este instrumento musical foi adquirido com “a colaboração dada pelas Confrarias das Almas e de Nossa Senhora do Rosário, aprovadas pelos seus Juízes, Oficiais e Mordomos, com assento na Igreja de S. Pedro, sendo assim possível ajudar a compartilhar nas despesas da sua aquisição, a cargo da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Igreja de S. Pedro”, pode ler-se no artigo.
O novo órgão teve “a sua solene inauguração na festa anual que se fazia naquele templo em louvor de Nossa Senhora do Rosário, a cargo da sua Confraria, cuja imagem se venerava no altar onde hoje se rende o culto a Nossa Senhora da Boa Viagem. A partir de então e até à abolição das Ordens Religiosas (que ocorreu a partir de 1834), foi a manutenção do órgão entregue aos cuidados do Convento do Bom Jesus de Peniche até porque ali existiam elementos competentes para o desempenho de funções de organista.
Nessa época “aqui vivia José Leal Moreira, mestre da música da então Vila de Peniche, com o partido de quarenta mil réis em cada um ano pagos pelo “Cofre dos Sobejos das Sisas” da mesma Vila sendo o dito mestre obrigado a ensinar de graça os moradores de Peniche por provisão da Rainha D. Maria I, de 5 de Dezembro de 1778. Pensa-se que, talvez a ideia da aquisição do órgão para a Igreja de São Pedro se deva ainda que de uma forma indirecta àquele professor de música, habilitado a formar alunos organistas”, explica o historiador.
Desde então, por longos anos ecoaram naquele templo os sons do velho órgão, “enchendo a alma” e acompanhando celebrações solenes como “Te Deum Laudamos”, ou Acções de graças a Deus, especialmente cantados quando em Peniche eram recebidos membros da realeza, altos eclesiásticos e militares de alta patente. Fernando Engenheiro acrescenta ainda que “outros organistas exploraram as capacidades deste majestoso órgão de tubos, mas não há memórias da sua actuação até aos primeiros anos do século XX, aquando das solenidades litúrgicas que assinalavam os dias do corpo de Deus, de S. Pedro, orago do templo, da Cadeira de S. Pedro, de Nossa Senhora do Rosário, ou ainda o Domingo de Páscoa e o Natal”.
Mais tarde, já em pleno século XX e já depois da Implantação da República, pela mão do mestre José Cândido de Azevedo Mello, o velho órgão continuou a encher de sonoridade musical a Igreja de São Pedro. José Cândido de Azevedo Mello, figura ímpar na arte musical em Peniche, fez realçar aquele instrumento em momentos litúrgicos de grande esplendor. Alguns alunos seus também o usaram, como os organistas Joaquim Desidério Júnior e sua nora D. Romana Ester Caldas Pereira Fausto de Mello”, explica o artigo de Fernando Engenheiro.
No entanto, alguns anos antes da morte do mestre José Cândido, ocorrida a 1 de outubro de 1950, mergulhou aquele grande instrumento musical num silêncio profundo, até aos dias de hoje. Sessenta e cinco anos depois, esta verdadeira jóia do património religioso e cultural de Peniche voltou a fazer-se ouvir, num recital que marca oficialmente a inauguração deste histórico instrumento musical.
De acordo com o Correio da Manhã, 11 abril 2015, Pedro Silva, pároco de Peniche, afirmou: “é uma alegria para a igreja, mas também para o concelho voltar a ouvir o órgão”, não só pelo acompanhamento litúrgico que vai permitir fazer, mas sobretudo pela importância patrimonial e artística.
O restauro custou cerca de 40 mil euros e foi feito pelo organeiro Pedro Guimarães.
O órgão foi construído em 1771 pelo italiano Pietro Antonio Boni, responsável pela manutenção de instrumentos da Sé Patriarcal de Lisboa a partir de 1758, ano em que aí vendeu e montou um órgão, na sequência da destruição provocada pelo terramoto de 1755, vindo a falecer poucos anos depois, em 1774.
Pelo estado gasto das teclas e outros mecanismos, terá tido muito uso durante 160 anos, estimou a paróquia.
O blogue Terra de Mar e Sol noticiava também a 12 de abril de 2015:
Acontecimento há muito esperado teve ontem o seu desfecho na Igreja de São Pedro com a inauguração do seu Órgão de Tubos. Antes do Recital, o nosso Prior, Padre Pedro procedeu à Bênção do Órgão. O Recital Inaugural teve a participação dos organistas internacionais Eva e Marco Brandazza e o Coral Stella Maris de Peniche, dirigido pelo Maestro João Sebastião, no dia em que este Coro comemorou o seu 38º aniversário.