Calheta (Madeira) e o seu folclore

Bailinho da Madeira
Folclore da Calheta

Grupos etnográficos, tradições e atividades no Concelho

  • Região: Região Autónoma da Madeira
  • Ilha: Madeira

Associação Grupo de Folclore da Calheta

Grupo de Folclore da Calheta

O Grupo de Folclore da Calheta surgiu em 2005. Porém, só em 2013 passou a designar-se de Associação Grupo de Folclore da Calheta – Madeira. Esta Associação é composta por trinta e cinco elementos e tem como principal objetivo a preservação e divulgação dos costumes e tradições da ilha da Madeira, em particular do Concelho da Calheta.

Atua por toda a região, desde unidades hoteleiras, restaurantes e festas tradicionais. A Associação conta também com três participações no estrangeiro, em 2007 na Suíça; em 2008 em Caracas e em Crawley (Inglaterra) em 2019.

7 Maravilhas da Cultura Popular

Em 2020, o Grupo de Folclore da Madeira, bailinho da Madeira ganhou o prestigiado prémio ‘7 Maravilhas da Cultura Popular’ com a sua dança tradicional folclórica popular de renome internacional, muito apreciada pelos turistas. A sua inscrição destacou-se contra um total de 504 inscrições para ganhar o prêmio principal na sua categoria, Música e Danças.

Sediado no concelho da Calheta, o grupo foi formado em 1938, pelo popular poeta madeirense João Gomes de Sousa (1895-1974), vulgarmente conhecido como o “Feiticeiro da Calheta”.

A canção vencedora remonta ao outono de 1938. Foi criada para assinalar a ocasião da primeira ‘festa da colheita’ no Funchal, onde o Feiticeiro da Calheta e o Grupo Folclórico do Arco da Calheta viajam da sua cidade natal para a capital. Não foi fácil, pois não havia estradas e chegar à capital significava uma árdua jornada a pé pela agreste topografia madeirense. A solução foi partir para o Funchal. Ao chegarem participaram no concurso de Folclore onde o Feiticeiro da Calheta, tocou e cantou pela primeira vez o bailinho da Madeira, e claro, a canção ganhou.

Com sua letra simples e comovente, a canção lembra a todos que apesar das duras condições que enfrentam no dia a dia, as pessoas viram a beleza da ilha, cantando sobre seu ‘encanto sem fim’. Rapidamente se tornou em uma das mais populares canções no património musical madeirense.

O concurso anual, patrocinado pela RTP1, tem sete categorias: – Música e Danças, Lendas e Mitos, Artesanato, Festas e Feiras, Rituais e Costumes, procissões e romarias e Artefatos.

A candidatura da letra do bailinho da Madeira às 7 maravilhas de Portugal personifica, em termos musicais, a Região Autónoma da Madeira. Nos quatro cantos do mundo, o bailinho da Madeira é conhecido devido à vasta comunidade emigrante, bem como ao número peculiar de turistas que visitam, anualmente, a Região. Desde os hotéis, às ruas, do sul ao norte e em todos os cantos da Ilha, é possível ouvir o bailinho da Madeira, sendo este considerado Património Musical e Imaterial.

Bailinho da Madeira

bailinho da Madeira

Feiticeiro da Calheta

O seu autor foi o poeta popular, João Gomes de Sousa, popularmente mais conhecido como o “Feiticeiro da Calheta”, figura icónica, no concelho, um sábio popular que, pelos seus dizeres e cantares, se tornou uma referência para a comunidade. Através da poesia popular criada muitas vezes pelo método repentista, cantada em desafio ou despique, tecia apreciações analíticas ou denunciadoras consideradas certeiras sobre temas antropológicos, de moral social e individual, acontecimentos históricos, comportamentos, problemas sociopolíticos e religiosos, até mesmo sobre temas teológicos e culturais diversos.

O Feiticeiro da Calheta e a sua viola de arame

O Feiticeiro da Calheta e a sua viola de arame

A descoberta da literatura de cordel escrita, do poeta popular Feiticeiro da Calheta só ocorre após 1938, por ocasião da primeira Festa das Vindimas, realizada em favor da caridade da Escola de Artes e Ofícios, pelo responsável Padre Laurindo Leal Pestana e a propaganda do vinho e da uva. Nos dias 18 e 19 de setembro de 1938, o poeta popular, Feiticeiro da Calheta vai com o Rancho Folclórico do Arco da Calheta para participar na primeira grande Festa das Vindimas.

Foram no barco Gavião, que partiu do Porto Moniz, passou pelo Paul do Mar e apanhou o rancho no porto da Fajã do Mar, freguesia do Arco da Calheta, zona oeste da Ilha da Madeira. Levaram consigo produtos agrícolas, vinho, animação e muito boa disposição. Houve um grande desfile pelas ruas do Funchal e também um concurso, no qual participaram muitos ranchos folclóricos vindos de todos os cantos da Ilha da Madeira. O Rancho do Arco da Calheta reconhecido pelo seu rigor, indumentária e animação, ficou em primeiro lugar, com o prémio de quinhentos escudos (500$00).

O Diário da Madeira relatou o evento e a 21 de setembro de 1938, após a grande festa das Vindimas, publica os versos cantados pelo Feiticeiro na exibição do Arco da Calheta, que cantou uns versos (em Xaramba) sobre a visita de do Presidente da República à Madeira, António Óscar Fragoso Carmona, a 13 de julho de 1938. É no contexto do desfile dos ranchos e bandas pelas diversas ruas do Funchal, como consta no programa das festas, que o Feiticeiro da Calheta ensaiava os versos de saudação à tribuna à frente do Governador da Madeira e restantes representantes e organizadores da festa, a música e as quadras que vieram a dar origem ao bailinho da Madeira.

A partir de 1938, face aos altos elogios que foram tecidos por diversas entidades no Funchal, que o Feiticeiro da Calheta ganhou maior entusiasmo e começou a publicar os folhetos e engendrar mais versos com diversas temáticas. Em 1949, Max e a sua banda, em Lisboa, na produtora Valentim de Carvalho, fez a gravação do bailinho da Madeira, mas com um arranjo musical. Rapidamente a música se espalhou através das rádios e chegou aos ouvidos de muitos e, de um modo especial, do Feiticeiro da Calheta. Sentindo-se defraudado, o Feiticeiro da Calheta foi ao Funchal de barco esperar o regresso de Max à Madeira para confrontá-lo por cantar uma letra da sua autoria e sem autorização. No intuito de remediar a situação, Max deu ao Feiticeiro da Calheta a quantia módica de vinte escudos (20$00).

Feiticeiro da Calheta e Max

O Feiticeiro da Calheta conviveu e privou com Max em diferentes ocasiões. Eram amigos, encontraram-se e animaram vários arraiais, um pouco por toda a Ilha da Madeira, nomeadamente o Arraial do Monte, o Arraial da Ponta Delgada e o Arraial do Loreto. Em 1964 cantou com Max no Hospital da Calheta. O Feiticeiro da Calheta, João Gomes de Sousa, faleceu a 8 de julho de 1974, na sua residência, no Lombo do Brasil, no entanto permaneceu nas lembranças do povo da Calheta. Hoje, artistas regionais, nacionais e internacionais tocam e cantam o bailinho da Madeira, bem como os grupos de folclore pelo mundo fora, onde se encontra através desta canção popular a alma regional, pois este é o verdadeiro hino do povo madeirense.

A importância do bailinho da Madeira entre as 7 Maravilhas de Portugal simboliza, em termos musicais, uma região. Deste modo, pretende-se perpetuar as caraterísticas específicas desta canção popular designada bailinho da Madeira, promovendo o património cultural imaterial da Região Autónoma da Madeira. O bailinho da Madeira tem ganho, ao longo do tempo, relevância histórica, justificando a sua transmissibilidade e a sua fruição através das gerações. Neste aspeto, entra em cena a categoria de património, que está fortemente relacionada a estes suportes materiais ou imateriais, sendo de indubitável relevância a classificação da música popular bailinho da Madeira, criada no Concelho da Calheta da Região Autónoma da Madeira como uma das 7 Maravilhas de Portugal.

Diário de Notícias, 6 de setembro de 2020

Fontes do Musorbis Folclore:

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